“Justiça e paz se abraçarão” é o lema da CF escolhido para este ano. Foi tirado do salmo 85 que se refere à grande libertação do exílio, como fato recente. Mas a libertação não foi completa nem definitiva e o povo se encontrava de novo na desgraça. O peso da dominação estrangeira apenas passara das mãos dos babilônios para as dos persas, sem se afastar do povo. Provações, más colheitas e contendas tiveram de despertar o doloroso reconhecimento de que o ansiado tempo da salvação ainda não havia chegado. A oração do salmo reconhece as ações de Deus em sua história e suplica a favor da justiça e da paz. Na bíblia, o culto sempre esteve ligado ao direito dos pobres, como condição de autenticidade e este salmo nos ajuda a assumir o culto como Aliança com o Deus da justiça e da misericórdia…
Em nossa América Latina, nestes últimos anos, as igrejas cristãs assumiram de modo vital um compromisso com transformação social e política. Desenvolveu-se um método de ler a bíblia e de fazer teologia, a partir da vida e das estruturas que são contrárias a ela. Nas comunidades populares, as celebrações assumiram um estilo coerente com esse jeito novo de ser igreja e de viver a fé. Isso enriqueceu a liturgia aproximando-a das lutas e das vivências cotidianas. Por questões históricas, sentimos a necessidade de enfatizar na liturgia a dimensão profética e o seu caráter político.
Hoje, sem perder essas conquistas, as pessoas querem que a liturgia guarde o seu caráter de memorial da páscoa e favoreça o encontro gratuito com o Senhor. Há sempre o risco de passar de um extremo a outro. Mas nós, de fato, não queremos voltar a uma prática celebrativa desvinculada da páscoa da vida. Por isso, respondendo ao apelo da CF, queremos revalorizar a função libertadora da liturgia. Aprendemos com a experiência desses anos, que não é pelo discurso que vamos fazer isso. Liturgia não é uma logia, mas uma urgia, uma ação, que pelo seu caráter simbólico, possui o segredo de falar a linguagem total que mais se compreende com os olhos e coração do que com o pensamento lógico. Que nossas celebrações sejam espaços de liberdade e de
alegria, de igualdade e respeito, que promova o encontro afetuoso com Deus e os irmãos, e estará sendo uma parábola do mundo que Deus fez para a felicidade de suas criaturas.
Avaliações
Não há avaliações ainda.