Vivemos num tempo de anonimato e de profundas incertezas. A pessoa é castigada pelas mudanças da sociedade, pelas crises que assolam grupos e povos. O desemprego deixa as pessoas, as famílias, privadas do mais elementar. Há a sensação de que nada existe para garantir sentido ao sofrimento e às próprias derrotas. Para toda uma geração, o que entrou em crise foi um conjunto de valores que se manifestaram capazes de dar sentido à vida das pessoas e de todo um povo e que agora parecem perder a sua força. Para compensar o imenso vazio se incentivou a revalorização do sagrado e do religioso, como busca de um sentido para viver, já que o sentido da vida é fundamentalmente religioso. Há uma procura de referência religiosa por toda parte, muitas vezes, fora das instituições religiosas.
Dentro de nossas Igrejas sente-se essa busca nos jovens que chegam desejando iniciar um “caminho”, ou querendo recomeçar após tempos de afastamento da comunidade. Muitos, também, são os adultos, homens e mulheres, que desejam intensificar a vivência de sua fé e se ligar com laços mais fortes de pertença. Há pessoas que foram, ou ainda são, marcadas por fortes experiências de militância e querem aprofundar a fé como militantes, lidando muitas vezes, com situações limites.
Diante de tais solicitações, sentimo-nos interpelados(as) a rever ou até mesmo a criar métodos de iniciação ou reiniciação à fé, já que nas comunidades cristãs do ocidente, pouco se valorizaram os ritos iniciáticos que marcavam a entrada na Igreja em tempos antigos. As pessoas não vêm, em primeiro lugar, para receber doutrinas. Vivendo num mundo onde as relações são marcadas pela frieza e pelos interesses comerciais, elas buscam ritos que tenham um caráter afetuoso e ajudem a viver relações fortes com as pessoas e com Deus.
Olhando para a seriedade com que se faz a iniciação em cultos afros e indígenas, ou como se dava o processo de iniciação nas Igrejas antigas, descobrimos a importância dos processos de iniciação na vida das pessoas e desejamos que nossas comunidades redescubram a mística batismal ligada à vigília pascal, como base para outros espaços de reiniciação e acompanhamento no caminho da fé. O Rito de Iniciação Cristã dos Adultos pode ser uma ótima referência nesse sentido.
Nesta e na próxima edição da nossa revista, conversaremos com vocês sobre o batismo de adultos e as etapas de preparação que o precede, situando a questão no contexto maior do seguimento de Jesus, no desejo de que as nossas comunidades signifiquem para muitas pessoas lugar de encontro consigo mesmas e novo sentido para a sua vida. Que a vivência da fé desperte a utopia de um novo dia, e reacenda ou realimente a pequena luz secretamente acesa, no meio da densa noite.
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