O ano da fé é uma oportunidade para revisitarmos o que constitui a porta de entrada da vida cristã. De fato, a primeira pergunta que se faz para quem busca o seguimento de Jesus na comunidade – O que pedes à Igreja de Deus? sugere uma resposta essencial: a fé. E o que é a fé? Adesão a Jesus Cristo, o Filho de Deus. Sem esta base, tudo o mais é apenas construção sobre areia. Por isso é tão fundamental para a vida da Igreja o itinerário catecumenal no qual a pessoa se torna cristã mediante a adesão e a participação na vida Jesus.
Trata-se de percorrer um caminho de três trilhos: o ensino-escuta da Palavra, a participação no mistério de Jesus expresso na liturgia (ritos catecumenais) e o exercício da vida nova segundo o ensino e a celebração. Com efeito, o cristianismo não é somente uma doutrina para entender. É, antes de tudo, um encontro pessoal com o mistério do amor celebrado e testemunhado na vida. A Carta Apostólica Porta Fidei de Bento XVI afirma que este ano é ocasião propícia para intensificar a celebração da fé na liturgia. (…) Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada (n. 9).
À consciência da igreja retorna a unidade entre as três colunas que sustentam o mundo segundo a tradição judaica (Palavra, liturgia e obras de misericórdia). Esta unidade, mantida no cristianismo primitivo (ensino dos apóstolos, partilha fraterna e fração do pão/oração) e interrompida na Igreja durante séculos, foi retomada no Concílio Vaticano II no contexto de uma nova eclesiologia (LG): a escuta da Palavra, o Verbo de Deus (Dei Verbum); a celebração do seu mistério na Palavra /sacramentos (Sacrosanctum Concilium); o testemunho do seu reino mundo (Gaudium et Spes).
A liturgia que sobreviveu desconectada da Palavra e da vida cristã, por séculos, assume de novo o seu lugar de guardiã da fé que a Igreja expressa na teologia/catequese e no testemunho. Ela supõe a fé (iniciação) e constantemente educa para que esta não fique no nível da doutrina ou das ideias. Torna-se o lugar comunitário no qual os fiéis, fazendo experiência por ritos e preces (SC 48) podem ser sujeitos da fé cristã e têm a possibilidade de progredir na fé.
Para isto é preciso cuidar das celebrações, levar a sério o rito, superando a perspectiva jurídica, legalista, superficial, em atenção à força performativa da palavra no contexto ritual, ao poder da linguagem não verbal em função da vida espiritual. É preciso cultivar a arte de celebrar para que possamos repetir com santo Ambrósio de Milão: Desejas crer como creem os cristãos? Então reze como rezam os cristãos ou como sugere o rito de ordenação: imita o que fazes. E assim reaprenderemos a liturgia como regra da fé e da conduta cristã.
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