Revista de Liturgia Edição 232 – A Homilia

Convocado por João XXIII em 1959, o Concílio Ecumênico Vaticano II teve início em 1962 e, em dezembro de 1963 foi votado e aprovado o seu primeiro documento, a Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Sagrada Liturgia. O fato se deu, não só porque a comissão preparatória apresentou um tão bem elaborado esquema de trabalho que mereceu ser discutido por primeiro em Aula Conciliar, mas também porque a reforma litúrgica era, de fato, uma urgência para que se cumprissem os propósitos essenciais do Concílio. Se dentro de “um mundo de fisionomia mudada”, como afirmava João XXIII às comissões preparatórias, era preciso “reconduzir às fontes puras da Revelação e da Tradição” e revestir o depósito da fé com linguagem compreensível aos tempos modernos, a liturgia, sendo expressão simbólica e sacramental da fé, devia ganhar de novo o seu lugar natural no conjunto da vida da Igreja e da sua missão no mundo. De fato, as grandes finalidades do Concílio, a começar pela promoção da vida cristã entre os fiéis, contam com “a reforma e incremento da liturgia” (SC 1) por considerarem que esta “contribui enormemente para que os fiéis exprimam em suas vidas e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja” (SC 2). Esta convicção de que a liturgia é cume e fonte da vida da Igreja, a primeira e mais necessária fonte de espiritualidade cristã na qual se deve garantir a participação efetiva do povo, é reafirmada de várias maneiras ao longo da Sacrosanctum Concilium, enunciada de forma incisiva no primeiro capítulo (Cf. SC nn. 9-14). Quando, hoje, nos deparamos com grupos que defendem a liturgia anterior ao Concílio Vaticano II, torna-se evidente não se tratar apenas do retrocesso da liturgia, mas de um retorno ao modelo de Igreja que já não respondia mais às questões formuladas pela humanidade do século XX. O que está em perigo não é a liturgia, mas um jeito novo de ser Igreja e de conceber seu papel no mundo, preconizado pelo concílio Vaticano II, do qual a liturgia é sacramento. Reproduzimos nesta edição a análise de conjuntura eclesial apresentada por Frei Luiz Carlos Susin na 50ª assembleia da CNBB em Aparecida, por considerar que a leitura deste texto traz lucidez sobre o que está acontecendo, hoje, na Igreja. Colocamos em foco também, a Homilia, resgatando mais um tema importante da reforma litúrgica no mutirão 50 anos da SC, em parceria com a Rede Celebra, somando esforços com a CNBB, o Centro de Liturgia e a ASLI (associação dos liturgistas do Brasil).