O Tempo comum que recomeça na Igreja depois de Pentecostes, coincide com o final da V Conferência do CELAM em Aparecida, evento que certamente marcará a atividade da Igreja nos próximos anos.
Merece o nosso olhar atento, não só o texto final, que em si já é uma referência importante, mas tudo o que representa o fato de bispos e outros representantes de todo um continente se reunir para repensar a missão da Igreja.
Ao retomar explicitamente como método de trabalho o Ver, Julgar e Agir, solicitado com quase unanimidade pelo episcopado dos países da América Latina, retoma-se a caminhada da Igreja Latino-americana com suas opções e jeito próprio de ser Igreja, reafirmando o fundamental compromisso com os pobres nos seus diferentes rostos: indígenas, afro-descendentes, mulheres, migrantes, doentes… Reafirma-se a cidadania eclesial das Comunidades Eclesiais de Base, a leitura orante da bíblia, a atenção à pluralidade cultural dos nossos povos, à ecologia, ao desenvolvimento sustentável, ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso.
Desta maneira, fica preservada a Tradição Medellin, a Conferência do Espiscopado Latino americano que se destaca por ter sido a que promoveu e articulou uma acolhida orgânica e colegial do Concílio Vaticano II no contexto sócio, político e cultural da América Latina. Diante das grandes questões sociais e ambientais de nosso tempo, Aparecida aponta para uma Igreja profundamente sintonizada com o Evangelho de Jesus, com as fontes da experiência fundante vivida pelas primeiras comunidades cristãs, discípulas e missionárias, abertas ao pluralismo de seu tempo.
O desafio que se impõe é transformar as grandes conclusões de Aparecida em pistas concretas e viáveis para uma ação efetiva. Descobrir formas de organização capazes de articular e capacitar os diversos atores que compõem o tecido eclesial, com seus diferentes carismas e serviços, numa relação de complementaridade, superando uma mentalidade clerical que cria dependência e paralisação. Levar a sério, na prática das comunidades, o que foi afirmado em Aparecida: a igualdade fundamental decorrente do sacerdócio batismal que se concretiza no discipulado, base da ação missionária nos diferentes serviços.
Se no tempo comum a memória litúrgica da Igreja reconhece como eventos pascais os encontros de Jesus com os pobres e doentes, seu ensino e sua convivência com os discípulos ao longo de sua itinerância missionária, então estamos num tempo privilegiado para levar a sério o que Aparecida e todo o seu contexto nos propõem para os próximos anos.
Mais do que nunca ousamos acreditar que os ventos da profecia é atividade do Espírito. Ele sopra aonde quer, e sempre suscita em toda parte, muitas vezes à margem do legalmente constituído, comunidades militantes que vivem sua fé engajada nas lutas cotidianas do povo. O mesmo Espírito que conduziu a assembléia de Aparecida a afirmar um pensamento global a respeito do ser e do agir da Igreja em nosso continente, há de conduzir nossas comunidades a agir localmente, quais luzeiros reacendendo a esperança de que o Reino de Deus está entre nós.
Avaliações
Não há avaliações ainda.