Jesus, ao sair das águas do seu batismo, no início da sua missão, foi conduzido pelo Espírito ao deserto… Quarenta dias revivendo, na sua experiência interior, os quarenta anos do povo de Deus pelo deserto até a conquista da terra… O deserto da prova e da solidão, o deserto de escolha radical, vencendo seduções, tomando a firme decisão de ir até o fim na obediência ao Pai.
A quaresma chega, trazendo de volta o deserto… Um tempo para habitar consigo (na expressão de São Bento), condição essencial para habitar com os demais e encontrar o próprio Deus. Cada comunidade se faz esposa, para escutar de Deus mesmo a promessa: Sou eu que vou seduzi-la ao deserto e conquistar seu coração. Eu me casarei com você para sempre, me casarei com você na justiça e no direito, no amor e na ternura.
Podemos acolher a quaresma como um tempo de fazer uma nova escolha de Deus, aceitando fazer o caminho de renúncia aos falsos deuses que nos dominam, para deixar que Deus seja o núcleo fundamental da nossa vida.
Três práticas são indicadas. A primeira delas é a oração. Um tempo por dia para escutar uma palavra que nos recoloque no Caminho. Um tempo de gratuidade e de perdão, um tempo para acolher a ternura de Deus em nossa vida, em tantas vidas ligadas a nós pela missão, pela amizade, ou afastadas de nós por qualquer motivo que seja.
A segunda é o jejum, a autodisciplina. Não aquela que nos é imposta, nem a disciplina inútil, mas a disciplina que escolhemos para melhorar a nossa vida, nossa saúde, nossas relações, nosso trabalho, nossa missão. O jejum pode ser de alimento, fundamental para o equilíbrio do corpo e do espírito, mas pode ser também o cultivo deliberado da paciência e da tolerância contra os efeitos destrutivos da raiva e do ódio, que com tanta freqüência se apossam de nós.
E, por fim, a esmola, que nos faz viver a quaresma como tempo de fraternidade, de solidariedade… Neste ano nosso olhar se concentra sobre o mundo das drogas, causas e efeitos, mas sobretudo sobre as pessoas que são vítimas delas. Buscar no próprio evangelho a força para sair do tráfico, como fez a menina Fabiana. Ou olhar os envolvidos com drogas com maior compaixão, sem preconceitos, oferecendo nossa pequena parcela para somar esforços por uma sociedade sem drogas.
Assim vamos retomando nossa consagração batismal, preparando a grande festa no coração e na vida. Cada celebração deste tempo deve reacender em nós o desejo da iluminação pelo fogo novo da páscoa.
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