Dos dias 14 a 18 de outubro de 2013 aconteceu em São Paulo a 27ª Semana de Liturgia, organizada pelo Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard, em parceria com o Unisal (Pio XI) e a Rede Celebra, com mais de 200 participantes de diversos lugares do Brasil. Tema abordado: Sacrosanctum Concilium, 50 anos: novo jeito de celebrar, novo jeito de ser Igreja.
De fato, a grande novidade do Concílio Vaticano II foi devolver à Igreja a consciência da sua identidade de Povo de Deus. Novidade já presente no primeiro documento do Concílio, a Sacrosanctum Concilium. Ao afirmar que a liturgia é o lugar no qual o mistério da Igreja se manifesta (cf. SC 4), e que as ações litúrgicas pertencem a todo o corpo da Igreja (Cf. SC 26), estabelece clara relação entre Igreja e liturgia.
Mas, 50 anos depois da promulgação da Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium, estamos vivendo tempos de retrocesso em direção a cenários litúrgicos diversificados, conforme os diferentes modelos eclesiais coexistentes. Os cenários litúrgicos, com aparência de modernidade ou ostentando o formato tridentino, estão comprometidos com velhas formas que pouco ou nada têm a ver com o modelo eclesial proposto pelo Concílio Vaticano II, criativamente assumido por Medelín e tão bem expresso nas Comunidades Eclesiais de Base.
Esses cenários têm em comum o clericalismo, com seus variados rostos, que desvirtua a nova visão de Igreja. Se existe um protagonismo é a do povo de Deus. E na liturgia, o protagonismo somente pode ser da assembleia, mediante a participação ativa, consciente e frutuosa, cuja base é o sacerdócio batismal vivido no mundo (na vida cotidiana, no trabalho, nos movimentos sociais, nas pastorais a serviço da vida) e na ação litúrgica, ápice da vida da Igreja.
A Semana de Liturgia foi uma oportunidade de revisitar a Sacrosanctum Concilium na perspectiva do modelo de Igreja sob o qual está ancorada a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, levando em conta os demais documentos, especialmente Lumen Gentium, Dei Verbum, Gaudium et Spes e Unitatis Redintegratio.
O grande objetivo da Semana foi buscar luz para compreender melhor o que de fato está acontecendo com a liturgia no atual contexto eclesial, e animar quem persiste no caminho aberto pelo movimento litúrgico que culminou no Concílio Vaticano II. Impossível negar os frutos do trabalho feito pela Igreja do Brasil para devolver ao povo de Deus a liturgia como fonte no caminho da fé e expressão do sacerdócio comum dos fiéis. Inegável a emergência de ministérios leigos, de homens e mulheres, ampliando o horizonte ministerial da Igreja. São 50 anos de trabalho árduo, nem sempre (ou quase nunca) evidenciado pela mídia (nem mesmo na Jornada Mundial da Juventude). Mas os frutos e as sementes estão aí. A visita do Papa Francisco à Ilha de Lampedusa e a liturgia que ali aconteceu são sinais de que as sementes ainda podem germinar e florescer. Nessa trilha a nossa revista caminhará ao longo do ano de 2014.1
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