A Celebração da Palavra foi um dos frutos concretos da recepção do Concílio Vaticano II em nosso Continente. A liturgia, como oportunidade de acesso às Sagradas Escrituras, já há muito havia distanciado o povo de Deus da fonte da Palavra, seja pela língua latina, seja pelo restrito elenco de leituras do lecionário anterior ao Concílio. Com os movimentos bíblico e litúrgico e, posteriormente, com a reforma da liturgia e as diversas iniciativas de leitura popular da Bíblia por todo o Brasil, a Palavra de Deus recuperou espaço no cenário eclesial.
As inúmeras comunidades do nosso país, que, graças ao sensus fidei, guardavam o domingo, muitas vezes com a reunião na Igreja e com os exercícios da Piedade Popular, foram agraciadas pela reforma litúrgica com a dádiva de celebrar a Palavra. Essa celebração se constituiu como uma modalidade própria da Liturgia da Igreja, recomendada, também, pela Constituição Litúrgica do mesmo Concílio Vaticano II (SC 35,4). O princípio emanado pelo Concílio descortinou um horizonte ainda a ser aprofundado pela prática litúrgico-pastoral e pela teologia litúrgica da Igreja.
Nestes cinquenta anos, houve grande esforço para realizar tais celebrações como verdadeiras ações litúrgicas, por meio de “ritos e preces” (SC 48), na forma efetiva de uma assembleia em oração, na qual os critérios simbólicos prevalecem sobre os aspectos catequéticos, e não como simples reunião de estudo. De fato, a eficácia da celebração da Palavra se dá por sua natureza
teológica e simbólico-sacramental, graças à “ação íntima do Espírito Santo que a torna operante no coração dos fiéis” (VD 52. Cf. IELM 9).
Em 1994 , importantes diretrizes foram oferecidas às comunidades católicas do Brasil pela CNBB, o que se deu através de seu documento 52, intitulado Orientações para a celebração da Palavra de Deus. O texto contribuiu para dar um perfil litúrgico estável a essas celebrações. Além disso, suscitou um novo ministério, o qual emergiu graças ao Espírito que promove o carisma
e o desejo de servir, a fim de responder à necessidade premente de reunir a comunidade no Dia do Senhor. Com isso, encontros de formação foram organizados nas dioceses e paróquias e subsídios foram elaborados para dar segurança e qualificar o ministério de quem preside.
É valioso que o recente documento 108 da CNBB, ao tratar da celebração da Palavra, dê continuidade ao caminho já percorrido, destacando e valorizando o ministério leigo em muitas comunidades e reconhecendo que se trata de um verdadeiro serviço à Igreja. Como forma de também incentivar esse momento fecundo e de contribuir para a formação nas comunidades a esse respeito, esta edição da Revista põe em destaque três aspectos dessas celebrações: o ministério da presidência, os ritos iniciais e a Liturgia da Palavra na Celebração no Dia do Senhor.
Os artigos propostos aprofundam a teologia da Celebração da Palavra, seguindo a senda indicada pelo recente documento da CNBB. O intuito de aprofundar tem em vista a grande empreitada eclesial que reconhece o valor dessas liturgias, sobretudo para as comunidades que não podem celebrar a eucaristia por falta de ministros ordenados.
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