A berakah, ou prece de ação de graças, é, tradicionalmente, oração por excelência da liturgia e da espiritualidade judaica. Consiste em uma atitude de reconhecimento, de louvor e de agradecimento pela bondade de Deus, pois Ele alimenta e alegra o coração das suas criaturas com os frutos da terra e com o dom da Palavra [Torá]. Na dinâmica dessa oração, não existe nada que não seja motivo de ação de graças. Até mesmo as experiências de fracasso e de sofrimento, em vez de levar ao desespero,
são motivos de bênção e louvor.
Nesse sentido, entende-se porque Jesus, em sua hora extrema, reúne os seus em torno da mesa e dá graças, gesto que está na origem da oração eucarística da Igreja. Em cada eucaristia, a Igreja faz o que Jesus fez na sua última Ceia: “tomou o pão e o vinho, deu graças, partiu e repartiu. Assim, Jesus mesmo, o Verbo de Deus encarnado, o Crucificado-Ressuscitado, e o Espirito que foi derramado em nossos corações, tornam-se motivos de louvor e agradecimento ao Pai. Fazer eucaristia é justamente transbordar de alegria no Espírito e confessar a fidelidade do Pai, apesar das nossas infidelidades.
Contudo, a “eucaristia” da Igreja não se esgota na oração eucarística, como nos alertam as palavras do prefácio no início dessa oração: “é nosso dever e nossa salvação dar-vos graças em todo tempo e em todo lugar”. De fato, não há uma única oração da
Igreja que não faça memória do mistério de Jesus e do seu reino no mundo, em atitude de reconhecimento e de gratidão. Além disso, a expressão / a afirmação “em todo tempo e em todo lugar” evoca uma atitude de gratuidade perante a vida, uma atitude de superação da cultura do lucro e da competição, em nome de uma abertura àquele que está na origem de todas as coisas.
Por esse motivo, mesmo quando falta a Ceia do Senhor no domingo, que nunca falte a ação de graças. Além da reunião e da escuta da Palavra, os documentos da CNBB e o próprio Diretório geral indicam essa prece como elemento indispensável. O Ofício Divino, que é, por tradição, uma das modalidades de celebração da Palavra, liturgia de louvor e de ação de graças, está sendo descoberto como alternativa para a celebração dominical, incorporando as leituras do respectivo domingo.
A reunião dominical é assembleia do povo sacerdotal, sacramento da Igreja, lugar da presença do Senhor e do seu Espírito. Está aí para realizar uma verdadeira ação litúrgica, páscoa semanal, dia da nova criatura que vive no repouso e na solidariedade, na escuta da Palavra, em ação de graças.
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