Numa sociedade onde a autoconfiança se apóia na satisfação de se sair bem na vida e de ser considerado melhor do que os outros, aceitar a morte é um desafio difícil. Acolher a morte consiste justamente em aceitar o caminho da solidariedade humana, de ser irmão e irmã da humanidade, portadora do mesmo destino final. É um caminho que cada um de nós deve percorrer. A própria vida, muitas vezes, nos conduz nessa trajetória obrigatória quando experimentamos decepções profundas, sobretudo a respeito de nós mesmos, e, mais especialmente, quando sofremos a partida de pessoas queridas.
Seria desejável que a morte não nos pegasse de surpresa, que fosse bem-vinda como uma nossa irmã, supondo, naturalmente, que am morte chegue no tempo certo, após termos realizado nossa tarefa neste mundo. O que não podemos aceitar são as causas que levam à morte prematura ou violenta, que interrompem muitas vidas em pleno começo ou fora do tempo.
No entanto, a cada dia recebemos notícias de mortes inesperadas e convivemos com a dificuldade de acolher a morte, sejam quais forem as circunstâncias em que ela ocorre. A sociedade a banaliza e a considera assunto inconveniente. No mundo urbano, bem diferente do mundo rural, os funerais são realizados com rapidez, de forma vazia e disfarçada. Quase sem ritual nenhum. Mas a morte não pode ser disfarçada sem conseqüências negativas para quem fica na dor da perda e da saudade. Mais do que nunca, faz-se necessário valorizar os aspectos fundamentais dos ritos funerais. As imagens do velório e de todas as expressões que acompanham o enterro colocam as pessoas num confronto salutar com o real e as faz viver a presença da ausência e a se despedir das pessoas queridas.
Nesse sentido, o ritual cristão de exéquias exerce um papel importante enquanto é um anúncio de páscoa, num clima de
confiança na misericórdia de Deus. É um rito de entrega da pessoa falecida nas mãos de Deus e, ao mesmo tempo, um rito de
consolação que possibilita às pessoas realizarem a necessária passagem pelo luto da morte. Exercem um efeito terapêutico que
nos levam a aceitar a nossa própria partida, já que, pela morte de quem amamos, temos acesso à nossa própria morte. Mas, como qualquer ação litúrgica a celebração das exéquias, requer dos ministros e ministras capacidade de fazer do rito um
acontecimento vivo, que realize na vida das pessoas o significado que traz em cada gesto e palavra. Neste número, continuando o assunto da revista anterior, vocês encontrarão elementos de meditação sobre a morte e sugestões de como celebrar por ocasião da morte.
Avaliações
Não há avaliações ainda.