A passagem para o novo milênio traz consigo um desejo universal de paz. Há por toda parte sinais deste desejo. A ONU declarou o ano 2000 como Ano Internacional por uma Cultura da Paz e 2001 a 2010 a Década de Educação para a Paz e a Não-Violência. O Conselho Mundial de Igrejas, em sua 8a Assembléia Mundial, em Harare, Zimbabwe, proclamou o Decênio Ecumênico para Superar a Violência (DSV). Prevê-se, em janeiro de 2001, a organização de atos simultâneos de inauguração do Decênio em todo o mundo. Desta forma, o Decênio Ecumênico para Superar a Violência aspira a suscitar o interesse e as expectativas das Igrejas, de organizações ecumênicas, grupos e movimentos de todo mundo para uma contribuição positiva, concreta e específica em favor da construção de uma cultura de paz.
O Manifesto da Paz lançado em Paris em março de 1999 chamava cada pessoa a assumir a sua parte de responsabilidade na construção da paz. Em todo o mundo, multiplicam-se trabalhos de educação para a paz, nas escolas e nas organizações não-governamentais, para que o povo não aceite a violência e use a não-violência como ferramenta política de mudança das sociedades.
É urgente que os cristãos se unam a este movimento pela paz. Para isto é necessário construir a paz e a unidade entre as próprias Igrejas divididas. O teólogo Hans Hüng lembrava em uma frase que ficou famosa que não vai haver paz no mundo enquanto não houver paz entre as religiões. O papa João Paulo II tem feito gestos eloqüentes, marcados pela convicção da paz. Quem não se lembra da Jornada Mundial de Oração pela paz (Assis, 1986)? E, neste ano, quem não acompanhou o seu itinerário à Terra Santa e a comemoração ecumênica das testemunhas da fé do século XX, que, no Coliseu de Roma, lembrava os mártires de diversas confissões cristãs?
Durante o encontro inter-religioso, no dia 23 de março, em Jerusalém, o papa afirmou estar consciente de que é necessário e urgente estabelecer vínculos mais estreitos entre todos os crentes, para garantir um mundo mais justo e pacífico. Em seu discurso, João Paulo II manifestou esperança em um novo futuro, chamando a atenção para a necessidade vital de um diálogo respeitoso entre as diversas tradições religiosas, no reconhecimento de que cada uma é sagrada e portadora de verdade e graça. Cada vez mais cristãos de todas as igrejas são confirmados pela certeza de que o Espirito de Deus atua em todas as culturas e como diversas vezes afirmou João Paulo II: Toda oração sincera e autêntica, em qualquer que seja a religião, é inspirada pelo Espirito de Deus.
Estes ensinamentos e estas convicções nos fazem acreditar que o movimento ecumênico é irreversível, apesar da recente Declaração Dominus Jesus da Congregação para a Doutrina da fé, insistindo sobre a centralidade da Igreja Católica. Aderindo ao convite de Jesus de baixar a vista e o coração e “descer ao encontro de Deus” (Hb 13, 13), onde ele se manifesta, teimamos no caminho do diálogo, sonhando com uma liturgia que respeite as diferenças e se identifique com as sementes do Verbo presentes nas manifestações simbólicas e rituais de nossas culturas ancestrais.
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