O Concílio Vaticano II resgatou o sentido da eucaristia como memória da páscoa do Cristo e da sua Igreja. Devolveu à celebração eucarística a sua forma de Ceia, para fazer o que Jesus fez: dar graças e repartir o pão e o vinho em comunhão, como sinal do amor que ama até o fim, até o ponto de dar a vida. Recolocou a eucaristia no centro da vida da Igreja, e a considerou raiz de qualquer comunidade cristã, definindo-a como fonte da vida e do caminho de fé.
Todo o trabalho de renovação litúrgica nesses anos de pós-concílio procurou devolver às comunidades cristãs o fundamento bíblico-teológico da eucaristia, ajudando a superar uma visão meramente devocional, libertando o sacramento da Ceia do Senhor de artifícios alheios à sua natureza e reconquistando a simplicidade como garantia de seu valor evangélico.
Aprendemos a ver a relação entre a celebração e a vida, entre a ceia e o lava-pés. Repetindo o que Jesus fez, aprendemos o significado do seu gesto e da relação que esse gesto tem com toda a sua vida e missão, e com a nossa vida e missão. Aprendemos a viver como ele viveu, a ter em nós os sentimentos que havia nele, a exercer o ministério da solidariedade para os que estão em necessidade, a optar por um estilo de vida baseado na partilha dos bens e da própria vida.
A reserva eucarística fica diante de nós como lembrança permanente da Ceia de Jesus, do seu amor que é capaz de ser fiel até o fim. É uma referência contínua para a oração do povo de Deus. Mas a continuidade da celebração se dá na vida, no exercício do nosso sacerdócio batismal pelo qual somos chamados a passar da morte à vida amando, perdoando, exercendo a tolerância e a paciência com os fracos, dando o melhor de nós mesmos para fazer valer a dignidade e a cidadania…
Trata-se de ser eucaristia na vida, fazendo o que Jesus fez, assumindo a cruz como preço do amor, da abertura ao diferente. É por isso que no rito da missa a cruz está presente no início e no fim. Não erguemos o ostensório, erguemos a cruz. Ela nos recorda que a participação no rito requer a opção do amor no cotidiano, numa perseverante entrega da própria vida. Entramos e saímos da celebração carregando no coração este segredo.
Quarenta anos depois, não podemos insistir num culto eucarístico paralelo à memória da Ceia, não podemos voltar a um devocionalismo triunfalista, distante do que nos pediu o Senhor quando disse: façam isto em memória de mim.
Avaliações
Não há avaliações ainda.