Desde o dia 11 de setembro passado, estamos vivendo sob o efeito do ataque contra as torres gêmeas e o Pentágono e, mais ainda, da reação violenta e impiedosa dos Estados Unidos contra os culpados desta tragédia.
Contudo, demonstrações humanitárias de solidariedade, afirmação de um movimento mundial em busca da paz e um convite insistente de líderes espirituais, de pessoas de bom senso, de organizações pela paz…, convite dirigido a cada ser humano, às comunidades, para que finalmente meditemos no verdadeiro significado da vida, e tenhamos a coragem de interromper o círculo do ódio, começando pelo lugar onde moramos, a partir da crença comum de que Somos Todos Um Só, independente de raça, crença, sexo, condição social…
No Brasil, a Campanha da Fraternidade deste ano convida as comunidades a unirem ao memorial da paixão de Jesus a memória indígena. Lembra que essa memória é marcada por traços profundamente positivos com seu modo de viver, com seus mitos e ritos, com o seu jeito de se relacionar com a natureza, com as formas de convivência baseada na partilha, no cuidado com as crianças, no respeito aos velhos. Lembra, sobretudo, o lado doloroso desta memória feita de exploração e de morte, que levou à quase extinção milhões de pessoas de diferentes povos e culturas. O que significa o recente ataque aos Estados Unidos diante de 500 anos de sucessivos massacres até à extinção de povos inteiros?
Os povos indígenas que escaparam da devastação dos dominadores não dispõem de armas para vingar o extermínio de seus antepassados, o estupro das mulheres, a destruição das águas e das terras… Pedem justiça em forma de terra e liberdade, não a vingança. Aos que causaram ou foram cúmplices de tantos sofrimentos, os indígenas pedem apenas que parem e escutem o canto da criação, com a mente e o coração (líder xukuru-Kiriri).
Assim, a Igreja entra nesta quaresma com o coração penitente, atendendo a este pedido de xukuro-Kiriri, consciente de sua participação na subjugação dos povos indígenas, mas determinada a reorientar a sua ação para uma escuta atenta e um agir que respeite a autonomia das comunidades indígenas na sua cultura, na sua religião, nos seus ritos.
A quaresma é o tempo que Deus nos dá para a nossa conversão. A renúncia que se impõe nesta quaresma é a esta lógica ímpia, norte-americana, de reagir à raiva com raiva, ao ataque com ataque, sem qualquer esforço para compreender as razões do que chamam de terrorismo. Nossa referência fundamental é Jesus, o servo de Deus, que passou pelo mundo fazendo o bem, resistindo à perseguição é à morte sem violência, amando até o fim. Nele, escutamos a palavra que nos vem da resistência indígena e de todas as fontes espirituais por uma cultura de paz, construindo já aqui, na convivência do nosso cotidiano, a mística da Terra Sem Males.
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