Neste ano em que voltamos o nosso coração para a eucarística, sua teologia e sua vivência ritual e existencial, propomos neste número de nossa revista, uma reflexão sobre o repertório musical da celebração eucarística no tempo da quaresma.
Desde 1964 a Igreja do Brasil, tem se esforçado para dar uma dimensão social ao tempo da quaresma, associando à memória da paixão e cruz de Jesus, uma chaga bem concreta do nosso tempo, como um lugar comum para somar força em busca de uma transformação pascal. Desde então se interrompeu o repertório de criação musical propriamente quaresmal, para dar lugar a composições ligadas ao tema da CF de cada ano.
Se num primeiro momento isso foi importante e ajudou as comunidades a assimilar a idéia de uma espiritualidade quaresmal que extrapola o âmbito interno da Igreja, com o tempo foi-se percebendo que a Campanha da Fraternidade é muito mais do que cinco músicas sobre o tema do ano, e que a celebração litúrgica quaresmal não pode ter como referência única o tema da campanha. Há anos essa questão está em discussão nos encontros pastorais e de formação litúgico-músical, com a sugestão de se ter apenas um hino alusivo ao tema de cada ano.
Finalmente, essa proposta foi aprovada e, já no próximo ano, as músicas da quaresma farão referência não apenas ao tema da CF (através do hino), mas também aos textos bíblicos e litúrgicos inerentes ao próprio tempo e a cada momento ritual. Poderemos dar preferência aos salmos e cânticos bíblicos ou de inspiração bíblica, além de poder usar de uma maior liberdade na escolha de músicas mais de acordo com a vida e o jeito da assembléia.
Com isso poderemos, a partir de músicas já existentes e de criações novas, construir um repertório a ser repetido e memorizado, sem precisar descartar a cada ano. Além do mais, teremos que descobrir outras maneiras de relacionar liturgia e CF, valorizando além da música, outras formas de expressar simbolicamente aquilo que a CF em questão coloca como finalidade. Pensando já no tema do próximo ano, podemos perguntar aos portadores de deficiência como se sentem nas celebrações de nossas comunidades, do que sentem falta e o que gostariam de sugerir.
Desde já desejamos que este seja um momento de retomada da quaresma e do seu significado dentro deste nosso mundo cada vez mais marcado pela violação dos direitos fundamentais e pela corrupção, e que a liturgia possa ser a fonte de inspiração e o lugar do descanso de todos os que ainda continuam acreditando em outro mundo possível.
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