No mundo da eficiência de pessoas e máquinas, da ciência e da técnica e na cultura que impõe padrões de beleza e de perfeição física a qualquer preço, há pouco espaço para a fragilidade e a fraqueza, e menos ainda para a deficiência. E, no entanto o mais eficiente está sujeito à derrota, e a natureza mesma faz seu caminho de diminuição e de perda até o máximo do desapego que é a morte.
A Campanha da Fraternidade deste ano, ao apontar a realidade da deficiência como objeto da atenção de toda a Igreja, coloca diante de nós um longo caminho a ser percorrido: caminho de conversão para o re-conhecimento do que é débil e para a capacidade de nomear o que não pode ser negado em nós e fora de nós… como condição de inclusão e amorosa acolhida, capaz de transformar o absurdo em graça e a debilidade em força e revelação.
Sem querer reduzir a pessoa a seus limites físicos e mentais, porque de fato cada pessoa é sempre maior do que suas imperfeições é preciso não cair na alienação de anular as condições diferenciadas com as quais a pessoa precisa e merece ser recebida e respeitada. Quando alguém experimenta ser profundamente acolhido em sua fraqueza, desta experiência emerge alegria, confiança e ganhos recíprocos. O que se quer não é anular a diferença impossível de ser escondida, mas chegar a aceitar conviver sem medo e sem preconceito com a diferença, a ter um olhar atento ao mistério que se manifesta na fragilidade.
A liturgia será um lugar propício de acolhida, de contato e convivência com pessoas portadoras de deficiência, um lugar de afirmar sua dignidade como pessoa, uma oportunidade de expressar seus afetos e suas lágrimas, de compartilhar sua experiência espiritual e a riqueza de seu coração capaz de acolher e professar a fé, muito além de qualquer limitação física ou mental.
A liturgia, enquanto memorial da passagem do Senhor, do aniquilamento para a vida, será lugar privilegiado de escuta, de superação de todo tipo de aversão, de conversão para perceber a experiência das pessoas feridas por algum tipo de deficiência, não como desgraça, mas como dom e fonte de compaixão, como lugar de salvação, como caminho para o essencial. A assembleia litúrgica, corpo do Senhor acolhe as pessoas com deficiência, na condição de iguais, sem superioridade e sem inferioridade, embora muito diferentes, abrindo a possibilidade de receber a sabedoria que emerge de sua experiência exigente como resposta ao desígnio de Deus em suas vidas, Ele que escolhe os fracos para confundir os fortes.
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