Caminhamos para o final de um ano de muitas lutas, decepções na política, enfraquecimento do Poder Popular, manifestação da violência organizada, acidentes e mortes, perdas irreparáveis… Mas não podemos e nem devemos perder de vista a esperança e o senso de responsabilidade… até porque, na pequena aldeia dos nossos cotidianos há muitos sinais concretos de ética prevalecendo, de amor concreto vencendo a arrogância, de gente capaz de pensar efetivamente nos outros … tantas pequenas iniciativas em busca de soluções coletivas, que somadas, ganham visibilidade no bairro, na cidade… sinais que vêm nos dizer que nem tudo está perdido…
No âmbito da Igreja, o final do ano coincide com o tempo do advento, quatro semanas antes do natal, apontando para um novo começo… Os textos bíblicos, as músicas, as orações que ouvimos e expressamos nas celebrações deste tempo vem, justamente, abrir um espaço para abrigar a nossa esperança, e não só abrigar, mas alargar, indicando a razão fundamental da nossa expectativa, o próprio Filho de Deus e o reino que ele veio inaugurar.
A liturgia do advento é uma grande súplica dirigida aos céus, para que se abram e desça o Salvador. Indica que a salvação está muito além do que os nossos limitados esforços podem alcançar. Ele vem do alto, de Deus. Ao mesmo tempo, lembra que foi na fragilidade humana de nossa condição mortal que o Verbo se manifestou e que os sinais da sua presença estão bem no meio de todas as contradições de nosso mundo.
Por isso, o grande apelo do advento é vigiar: estar atentos/as ao que acontece de positivo, aos sinais da presença do Verbo, ainda que sejam frágeis sinais. Vigiar é também agir, ser presença, participar, dar a nossa parcela de contribuição neste caminho inverso, onde a construção se faz mediante a capacidade de renunciar a si mesmo, como Jesus, de orientar o coração e todas as energias para fazer valer o Evangelho, o amor que não exige troca.
Neste número de nossa revista, relatando o testemunho da Igreja de São Félix do Araquaia e a Romaria dos Mártires da América Latina, se confirma para nós a eficácia deste caminho na contra mão regido por lógica totalmente contrária à das elites detentoras do poder e do dinheiro. Que possamos viver este advento como um tempo de redescobrir em profundidade as razões da esperança que nos mobilize para ser presença capaz de modificar o que consideramos contrário ao que esperamos.
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