Cenários de destruição e de morte, de fome e miséria, de fabricação de bombas e combate ao terrorismo continuam povoando a geografia do mundo e poderiam provocar uma enorme sensação de impotência e desespero. No entanto, o começo de um novo ano traz em si o anúncio de uma esperança possível à medida que focaliza a paz, não como vitória conquistada pelas armas, mas como resultado de esforços humanos em busca de uma convivência baseada na justiça e na não-violência.
A liturgia dos primeiros domingos do ano, e logo depois o início da quaresma, aponta nesta direção: propõem um caminho de espiritualidade que ajuda a libertar o mais íntimo e profundo do ser humano, de todas as formas de violência, visto que não é possível mudar o mundo sem que cada um/cada uma busque transformar o seu próprio coração e re-inventar o seu cotidiano com gestos humanos de cuidado com as coisas, com a natureza, com as relações…
Etty Hilesum, jovem holandesa, judia, exterminada nas câmaras de gás em Auschwitz, junto com milhares de outros judeus, lembra em seu diário: Eu não acredito mais que possamos corrigir qualquer coisa no mundo fora de nós, se não o corrigimos primeiro em nós mesmos(as) (…) Quando resolver certos problemas para mim terei resolvido para milhares de outras mulheres. Por essa razão é que devo ocupar-me comigo mesma….
Entretanto não se trata de um antes e um depois. A própria Etty afirma: Eu gostaria de suscitar, onde eu estiver, um início de fraternização entre aqueles que costumamos chamar de inimigos. Somos parte do universo, e a própria luta pela transformação social e pela preservação do planeta pode ser um caminho de conversão pessoal e de peregrinação interior em busca de nós mesmos. Por isso, a Igreja no Brasil, há anos, associa à Quaresma a Campanha da Fraternidade, sempre em torno de uma luta coletiva.
Neste ano, o convite é voltar o nosso olhar e a nossa ação para a Amazônia, com sua imensidão de matas, com seus enormes rios, seus igarapés e lagos; com toda a sua bio diversidade e suas reservas minerais; Amazônia, cobiçada e criminosamente devastada… Amazônia povoada de comunidades indígenas, ribeirinhas e migrantes em luta pela sobrevivência; Amazônia, guardiã de culturas milenares, ambiente espiritual de uma Igreja em pé de testemunho…
É um apelo a acionarmos todas as nossas energias como num grande e audacioso ensaio de defesa deste patrimônio universal da humanidade, apoiando pequenos e grandes projetos que efetivamente contribuem para a preservação da floresta e para a sobrevivência de seus habitantes.
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