Mais uma vez nossa revista se volta para a V Conferência do CELAM em Aparecida, desta vez chamando a atenção para o canto e a música que fizeram parte das celebrações durante todo o evento. Neste momento em que as celebrações via mídia, sugerem muitas vezes o contrário do que se espera, o cuidado por parte da coordenação da liturgia na Conferência, de garantir um repertório adequado ao tempo litúrgico e a cada momento celebrativo, significou uma conquista importante; uma amostra da influência positiva que a TV pode exercer sobre as dioceses no esforço que vêm fazendo para qualificar o repertório musical, bem como para levar adiante os propósitos da reforma litúrgica a partir do Concílio Vaticano II.
Essa escolha vivida em Aparecida, é coerente com os objetivos da Conferência que coloca como base de tudo a fé em Jesus, delinendo uma Igreja discípula, ouvinte da Palavra, adoradora e doxológica; articulada com sua dimensão missionária no anúncio da boa notícia aos pobres; e com sua dimensão samaritana, na solidariedade e no serviço aos caídos. A fé em Jesus não como simples apropriação da doutrina, mas como adesão pessoal, experiência de encontro que gera uma vida espiritual de acordo com o evangelho; experiência de encontrar um por quem viver e não apenas um porquê.
Assim sendo, a liturgia, como confissão da fé, tempo sagrado de beber da fonte do evento fundador – a vida morte e ressurreição de Jesus -, é momento privilegiado de anúncio e acolhida de Jesus, manifestação do Pai, princípio e orientação para a pessoa em seu caminho de fé e para a Igreja, guardiã e anunciadora desta herança essencial.
De fato, na liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II, o eixo que perpassa todas as celebrações dos sacramentos e sacramentais, do Ofício Divino e do Ano litúrgico, também a música e até mesmo o espaço e a arte, é o mistério pascal de Jesus: a morte, como desfecho de uma vida missionária em um mundo que não podia suportar o seu anúncio a favor dos pequenos, e a ressurreição, como justiça de Deus e sinal de vitória.
No conjunto desta liturgia, o Concílio pôs em evidência a Palavra de Deus, sua interpretação e a resposta orante a esta palavra que se dá, também, mediante o canto litúrgico. É uma palavra que se ouve como rememoração da trajetória de Jesus, também dos mártires que serguiram os seus passos, trajetória que se oferece a nós, no presente de nossa história, nós que temos a responsabilidade de dar nossa contribuição no mundo em que vivemos, como discípulos(as) e missionários(as). Por isso, o canto litúrgico, não é um artifício, é parte integrante, é a própria ação litúrgica enriquecida por sons, ritmos e melodias.
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