Por ser o espaço um dos sinais sensíveis da liturgia, a sua concepção e construção, a maneira como nos relacionamos com ele, merecem todo cuidado. Ele é apenas um sinal, mas um sinal eloquente, uma porta de entrada para o mistério, para o transcendente que, para nós cristãos, se manifestou em Jesus.
Fala-se da função simbólica e Mistagógica do Espaço porque o edifício com sua forma e beleza, nos remete ao Cristo como lugar primordial da manifestação de Deus e nos remete à Igreja, habitação de Deus, no Espírito, templo edificado sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo Cristo a pedra angular (cf. Ef 2,19-22). O edifício é a casa da Igreja, mas a casa de Deus somos nós.
Por si só, o espaço litúrgico tem uma dimensão mistagógica, pois ao entrar em determinado recinto sagrado, mesmo fora da celebração, a pessoa é impelida a reverenciar o divino. Mas este espaço cumpre ainda mais a sua função de conduzir ao mistério, quando acolhe uma comunidade de fiéis, a Igreja, o Corpo de Cristo, para aí, nas ações litúrgicas, viver o memorial da páscoa de Cristo, experimentado na própria vida e na realidade em que vive.
Da estreita relação entre a casa e a comunidade, se deduz o paralelo entre o trabalho de construção do edifício com suas etapas (escolha do terreno, concepção arquitetônica, execução do projeto e adequação do espaço para a sua finalidade específica) e o itinerário da iniciação cristã, pelo qual a pessoa se torna membro da Igreja. O ritual de Iniciação Cristã de Adultos propõe que o caminho da iniciação tenha etapas ou passos pelos quais o catecúmeno, ao caminhar, como que atravessa uma porta ou sobe um degrau no itinerário espiritual (n. 6).
Uma destas etapas, a da purificação e iluminação coincide normalmente com a quaresma. Para os catecúmenos é um tempo consagrado a preparar mais intensamente o espírito e o coração a caminho dos sacramentos pascais; para a comunidade dos fiéis é tempo de renovar sua adesão a Jesus e, na alegria do desejo espiritual, esperar a santa páscoa.
A oportunidade de refletirmos sobre a mistagogia do espaço litúrgico, justamente no início da quaresma, pode nos levar a perguntar até que ponto nossos espaços litúrgicos, estão a serviço da vida cristã e sua celebração. E até que ponto a maneira de celebrar nos leva a querer e a buscar um espaço que lhe seja mais adequado.
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