Nesta edição, nossa revista chama a atenção para a mútua interação que há entre ministério da Palavra, ministério da Liturgia e ministério da Caridade, a partir das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, aprovadas pela 46ª Assembléia Geral da CNBB. O texto propõe essa trilogia, não como novidade, mas como resgate de antiga tradição da Igreja (inspirada no judaísmo), que traduz em termos essenciais a sua vocação e missão.
Trata-se de uma regra fundamental em que a Palavra vem em primeiro lugar, como fonte de sabedoria e de entendimento que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. E aqui se entenda a Palavra das Escrituras transmitida na forma de primeiro anúncio e de catequese, mediante a proclamação e a pregação na liturgia, assimilada e aprofundada na leitura orante… E também os acontecimentos da vida nos quais aprendemos a discernir a Palavra de Deus…
Em terceiro lugar vem a conduta de vida, em obediência à Palavra, que se traduz em amor concreto no cotidiano, em tolerância nas diferenças, em serviço aos que necessitam, em capacidade de sofrer para testemunhar o evangelho. A vida cristã supõe a contínua superação de si mesmo/a para colocar-se a serviço dos demais, numa doação desinteressada, como Jesus que passou entre nós fazendo o bem e amou até o fim.
Entre a Palavra e a conduta de vida está a oração, a liturgia. Não podemos passar do anúncio à ética sem a necessária mediação da oração, pois a ética nunca será resultado de um esforço voluntarista, mas será sempre manifestação do Espírito de Deus que qualifica a pessoa para toda boa obra (cf. 2Tm 3,17). Jesus já havia alertado: sem mim, vocês não podem fazer nada (Jô 15,5). Então, estamos sempre diante da nossa pobreza que é a porta de entrada da oração.
Na liturgia nos confrontamos com a fraqueza de Deus em Jesus, crucificado ressuscitado. Deste confronto vital renova-se em nós a firme certeza de que é na fraqueza que se manifesta a força de Deus (cf. 2Cor 12,9), fraqueza admitida e assumida, como condição para nos colocarmos à escuta da Palavra e para nos dirigirmos a quem quer que seja, na missão. Receber com misericórdia a dimensão vulnerável da própria vida, eis a condição para entrar em relação com outras pessoas, com suas histórias e combates, em atitude de aceitação, sem moralizar e sem exigir mudanças.
São pontos luminosos para a espiritualidade cristã; conduzem a uma revisão de vida pessoal e comunitária, e levam, particularmente os agentes da pastoral litúrgica, a se perguntarem sobre a qualidade das celebrações. Teremos que superar o formalismo de liturgias estáticas e frias, distante da vida e do sentimento das pessoas, sem cair num tipo de celebração sentimental e exageradamente subjetiva, mas igualmente distante da realidade das pessoas. O que se propõe é uma liturgia que leve a sério sua linguagem simbólico-teológica, vá de encontro ao fervor religioso do povo que se prolongue numa ética de solidariedade.
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