Ainda sob o efeito das festas pascais, prolongadas pelo pentecostes (50 dias), temos a alegria de partilhar com os leitores desta revista o relato de uma experiência que vem do continente africano, de Moçambique, trazendo nas cores de sua raça e no movimento de suas danças a amorosa e contagiante energia da páscoa. Recebemos reverentes o testemunho desta Igreja, destemida, vibrante, guiada pela presença do ressuscitado, vencendo iniquidades e históricas contradições.
É de se admirar também a sua criatividade e ousadia no que concerne a incorporação, na liturgia, de ritmos e melodias, de cores e danças, de gritos e gestos que fazem parte da sua cultura, tão essencial à sobrevivência humana, como a água e o pão. Justamente agora, quando em muitas partes do mundo se assiste a retrocessos a respeito da singular abertura da Igreja no século XX, de não impor na liturgia uma forma rígida e única (…) e de promover as qualidades de espírito das várias raças e povos, a persistência da Igreja africana é um sinal eloquente da liberdade dos filhos e filhas de Deus.
De fato, o que o Concílio previu nada tem a ver com o nivelamento imposto pela cultura de massa e seus shows, que invadiram os cenários de nossas celebrações, transformando em palcos, o lugar da ceia de irmãos e irmãs com o Senhor. O Concílio falava de legítimas variações e adaptações ligadas aos grupos étnicos e às tradições e índole de cada povoque inclui também a maneira de compreender e viver a fé e ao jeito de ser Igreja em cada lugar.
E isso para garantir uma maior proximidade entre a liturgia e as pessoas que dela participam, entre os sinais sensíveis que realizam a fé e os sinais sensíveis que servem de comunicação no cotidiano das diferentes realidades culturais… De tal maneira que a celebração estivesse à altura da compreensão dos fiéis, sem precisar de muitas explicações.
O bom é que esta proposta que vem de um Concílio permanece soberana e pode nos animar a seguir em frente em busca de uma liturgia mais evangélica, capaz de humanizar a vida e as relações, fonte de alegria e de força para ficar de pé em meio aos ventos contrários, cume dos passos dados e das vitórias conquistadas por nossas comunidades.
E enquanto houver um sinal de teimosia em prol da vida e da liberdade, enquanto persistirem os passos de dança celebrando a páscoa há esperança de ressurreição, desde já e para sempre. É o que sugere nosso querido Pedro Casaldáliga: Depois da síntese final da Páscoa de Cristo não nos é permitido viver tristes. Agora a verdadeira alternativa é: ou a vida ou a ressurreição.
Avaliações
Não há avaliações ainda.