A nova visão científica a respeito do Cosmos, indicando-o como uma teia de múltiplas e mútuas relações, e a crise ecológica, exigindo uma tomada de consciência em todo o mundo, fazem que as tradições religiosas e as Igrejas cristãs repensem o seu papel dentro da sociedade, e descubram o quanto podem contribuir para uma ética de cuidado e uma atitude de compaixão e reverência em relação a tudo o que faz parte da criação. Trata-se de uma volta à ancestral sabedoria indígena: “anda com mansidão sobre a terra, ela é sagrada”.
Nossa Revista, cumprindo o propósito para este ano de 2010, coloca mais uma vez em destaque a Ecologia na sua relação com a fé da Igreja e sua liturgia. Desta vez, o que está em foco é a base cósmica dos sacramentos da fé. A água é sagrada, por ser água, criatura de Deus, antes de se tornar símbolo da nossa salvação. Por isso, a oração sobre a água, começa bendizendo a Deus pela água ‘nossa irmã’, por todas as águas, para em seguida atribuir-lhe significado teológico e usá-la como expressão simbólica da vida nova em Cristo.
Neste sentido, cada celebração litúrgica é momento privilegiado que nos situa dentro da ‘suprema liturgia do próprio universo’, no seu constante pulsar e respirar, no seu movimento de ir e vir, na sua exultação e no seu lamento, e nos move a permanecer despertos ao Sopro que perpassa tudo o que vive e respira e que mantém viva cada parcela do universo. Por isso, é tão importante cuidar dos materiais que usamos em nossas celebrações, que sejam naturais e ecologicamente corretos, que nos mantenham em conexão vital com o grande corpo do qual somos parte.
A atitude de reverência ao lidar com o símbolo (água, fogo, óleo, pão, vinho…), e esta dimensão espiritual que nos une ao todo, nos educa a uma atitude de cuidado com todos os espaços que ocupamos, com todas as coisas e com todos os viventes da criação. A liturgia nos move a não perder a esperança, a investir na possibilidade de conter o instinto de morte que se impõe sobre o planeta, para que prevaleça o instinto de vida. A celebração do amor que vence a morte em Jesus, nos leva a crer, com Leonardo Boff, que “as dores não são de morte, mas de parto”.
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