Revista de Liturgia Edição 221 – Potencial Eco-Pedagógico da Liturgia

Na continuidade da busca de aproximação entre liturgia e ecologia em perspectiva teológica, nossa revista, neste número, enfatiza a capacidade que a liturgia tem de criar em seus participantes uma maneira de pensar e de agir, que contribua efetivamente com a construção de outro mundo possível e com a salvação do planeta. Parte do princípio que, sendo a liturgia uma ação ritual, feita de sinais sensíveis, carregada de sentido pascal, tem a capacidade de moldar a vida, inspirar atitudes éticas, não através do discurso, mas pela mediação do corpo, participante consciente, na ação ritual. Teoricamente, não há como negar a força pedagógica e transformadora presente na ação ritual. Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, todos os ritos, ‘reconhecidos com igual direito e honra’ (cf. SC 4), foram revistos, tendo como eixo a morte e ressurreição do Cristo e como meta a participação ativa, consciente e plena dos fiéis, de tal maneira que o povo de Deus, encontre no ato de celebrar a expressão e a fonte da sua fé. Cremos que, em Jesus, Deus chama todos à sua comunhão; que o Ressuscitado atinge o universo inteiro e que muitos respondem a esta convocação divina, existencialmente, com sua conduta de vida. Os que foram iniciados na fé da Igreja experimentam na liturgia a manifestação deste mistério presente em toda a realidade pessoal, social e cósmica. E o que é vivido sacramentalmente, ritualmente, na celebração, tem continuidade na vida diária, no testemunho no meio do mundo. Ao mesmo tempo, nos damos conta que nem toda celebração proporciona uma experiência vital capaz de conduzir efetivamente a novas atitudes. Muitos fatores contribuem para reduzir a liturgia à mera formalidade ou a uma mudança de visual, mas sem a profundidade e a veracidade que requer o ato de celebrar. Segundo a Tradição da Igreja, para que a Liturgia seja de fato, cume e fonte da vida cristã, faz-se necessário iniciação na fé e mistagogia do mistério celebrado.