Revista de Liturgia Edição 233 – Geraldo Leite, o Servidor da Nação do Divino

Com especial reconhecimento e alegria colocamos em foco nesta edição, como parte do mutirão 50 anos da SC, a memória do querido padre Geraldo Leite Bastos, o Servidor da Nação do Divino. Nascido na cidade de Moreno (PE) em 1934, foi ordenado em 1961, e no ano seguinte, justamente no início do Concílio Vaticano II, começou o seu ministério presbiteral em Ponte dos Carvalhos (PE), no meio de uma população pobre, na qual ele mergulhou, atento à sua vida e às suas expressões culturais, com profundo senso humano e pastoral. A celebração, na igreja matriz de Ponte dos Carvalhos, na tarde do dia 19 de abril deste ano, 25 anos depois de seu trânsito para a casa do Pai, reuniu cerca de 150 pessoas amigas, representando as Comunidades Eclesiais de Base do Morro da Conceição, de Escada e da Ponte. A celebração, que durou mais de três horas, deu destaque para a recordação da vida, momento em que foram compartilhadas as lembranças mais significativas da vida e da multíplice ação pastoral do padre Geraldo. Nas falas de quem conviveu com ele, ficou evidente o quanto a sua memória permanece viva no coração das pessoas: sua contagiante alegria, sempre cercado de pessoas, irmão de todos, sobretudo dos pobres com quem aprendeu a ser pastor e servidor. Movido pelo Espírito do Concílio, Geraldo Leite propôs uma experiência de Igreja povo de Deus, com dimensão humana e solidária, comunidade de fé e de vida, animada pelo Espírito do Evangelho. E sua trajetória seguiu, com ardor de discípulo-missionário, na comunidade eclesial do Morro da Conceição em Recife e, finalmente em Escada (PE), onde concluiu sua vida e missão em 1987. No que diz respeito à liturgia, nos 25 anos de atividade pastoral deixou-nos um legado incomparável: suas composições musicais enraizadas na cultura local; os espaços litúrgicos construídos com rara beleza e sensibilidade artística e espiritual; a experiência de celebrar com o povo o Ofício Divino; sua capacidade de juntar harmoniosamente a piedade popular e a liturgia da Igreja, a vida cotidiana e as expressões rituais, o “louvor e o lamento”, o silêncio e a exuberância da assembleia em festa, a informalidade e a ritualidade, e, como ele gostava de dizer, “a África e o Brasil”, que bem expressa o seu contínuo esforço de inculturação da fé e da liturgia. Que a memória do padre Geraldo Leite inspire e anime nossas comunidades ao celebrar os 50 anos do Concílio que abriu as portas para uma liturgia que respeita e procura desenvolver as qualidades de espírito das várias raças e povos (Cf. SC 37); que não se deixem esmorecer diante do retrocesso atual, que se expressa em um “sagrado” que se distancia do povo, em vez de fazer da liturgia um lugar onde as pessoas experimentam o hoje de Deus a partir do que vivem em seu cotidiano.