Com esta edição, fecha-se um ciclo de três anos, em que nos centramos na comemoração dos 50 anos da Sacrosanctum Concilium, promulgada no dia 4 de dezembro de 1963, que desencadeou a grande reforma litúrgica do Concílio Vaticano II. Depois de séculos de sobreviver distante da vida do povo, a liturgia volta a ocupar o lugar que lhe cabe no conjunto da vida eclesial, em profunda ligação com a fé em Jesus Cristo e com a conduta de vida pautada no evangelho.
A fé que celebramos não é uma ideia, não é uma doutrina, é uma vida de amor que nasce e se sustenta no encontro com o Verbo de Deus, nascido de Maria, para ser o nosso Salvador. Antes de se manifestar na celebração, a fé é uma adesão a Jesus, vivida no cotidiano concreto, experimentada como exercício de comunhão e de serviço, para só então culminar à luz da Palavra na liturgia e nela se iluminar.
Neste caso, a liturgia coincide com a própria vida, quando o que move a inserção na missão é o Cristo e seu reino. Ele próprio, ao entrar em nosso mundo, fez da sua vida uma oferenda de louvor ao Pai. “Com efeito, não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hebreus 4,15) e se fez solidário às nossas enfermidades.
Essa liturgia da vida vemos estampada no eloquente testemunho das Irmãzinhas de Jesus que, em 1952, decidiram morar na aldeia dos indígenas Tapirapé no Araguaia (MT) e lá vivem há 61 anos. No espírito do Irmão Carlos de Foucauld que no início do século XX foi conviver com os muçulmanos no deserto da Algéria com pleno respeito à sua cultura e religião, as Irmãzinhas de Jesus, unindo-se à agonia do povo Tapirapé quase em extinção, passaram a viver com ele o evangelho da aproximação, não para convertê-los, mas para lutar com eles pela sua sobrevivência física e cultural. Nunca impuseram sua fé ou liturgia; ao contrário, incentivaram com profundo respeito sua cultura e rituais.
O relato dos ritos funerais da irmã Genoveva que esteve presente na missão desde o início, em 1952, até sua morte, no dia 24 de setembro passado, comprova o poder e a eficácia do evangelho anunciado com o silêncio e as ações cotidianas, qual memorial permanente da encarnação do Verbo em nossa história e da sua entrega pascal.
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