As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) emergiram fortemente no Brasil e receberam grande respaldo da Conferência Episcopal Latino-americana, em Medellín (1968), cuja principal finalidade era aplicar as propostas do Concílio Vaticano II à realidade do nosso continente. Momento de grande lucidez espiritual marcado por aguçada sensibilidade pela problemática social, que resultou em uma teologia latino- americana de identidade e método próprios. As CEBs cresceram nesse contexto não como movimento, nem como modelo entre os demais, mas eixo estruturante de um novo modelo de Igreja emanado do grande Concílio. Habitadas pelo mesmo Espírito que gerou e sustentou as primeiras comunidades cristãs, as CEBs são expressão de uma Igreja situada historicamente a serviço dos pobres e tendo o pobre como sujeito. Uma experiência de fé vivida no cotidiano, na luta pela sobrevivência e por melhores condições de vida, de forma refletida e consciente, com o protagonismo do povo, homens e mulheres, jovens e crianças. O que está em jogo é a vivência da fé em uma comunidade de relações interpessoais, de cuidados recíprocos, de convivência solidária, de abertura ecumênica a serviço das grandes causas que vão das questões sociais, políticas e econômicas, aos conflitos étnicos, raciais e de gênero; do pluralismo religioso à busca da paz como caminho. Um novo jeito de ser Igreja que resulta em novo jeito de celebrar.
Em época tão conturbada como a que vivemos, de crises profundas e idolatria do lucro a qualquer preço, à custa da miséria de grande parte da humanidade, o ser Igreja protagonizado pelas CEBs é de enorme atualidade, não porém sem imensos desafios. Afinal, nos últimos 25 anos as CEBs perderam sua força profética em consequência da onda clerical dominante nos cenários eclesiais, da presença ostensiva de movimentos em suas diversas vertentes, com grande apoio das TVs católicas, impondo outro modelo de Igreja.
Contudo, as CEBs não estão banidas, e os grandes Intereclesiais são momentos de torná-las visíveis, fazer memória, confirmar acertos, corrigir desvios e chamar de volta ao primeiro amor rumo ao futuro. O 13º Intereclesial, nas terras sagradas do Juazeiro, bebendo da piedade romeira do povo nordestino e da sabedoria de patriarcas e matriarcas com experiências místicas de fraternidades solidárias, foi uma oportunidade de fazer em grande medida a experiência de uma Igreja circular nas rodas de estudo, nos momentos celebrativos e nas equipes de serviços, e de refazer a esperança de ver despontar broto novo, da raiz da Flor sem defesa (expressão de Carlos Mesters, referindo-se à resistência das CEBs).
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