Na década de 1960, em várias regiões do Brasil, homens e mulheres de fé começaram a se reunir nas casas, como amigos e vizinhos, para partilhar experiências de vida, orar juntos, ouvir a Palavra de Deus e fortalecer a solidariedade. Foi o começo das Comunidades Eclesiais de Base a partir de uma nova consciência eclesial despertada pelo Concílio Vaticano II, que devolvia ao povo de Deus a condição de sujeito eclesial pela força do batismo.
Não era a primeira vez que as comunidades, sobretudo na zona rural e periferias urbanas, se reuniam entre vizinhos. No Brasil, há uma rica tradição de vida cristã ligada às casas, reunindo vizinhos e amigos pelo simples prazer da convivência e para expressar comunitariamente a fé: uma saída criativa para a autonomia em relação ao clero, que, de um lado, estava ausente nas localidades distantes e, do outro, no âmbito da paróquia, exercia um tal domínio que ao leigo só restava obedecer.
Com a escassez de evangelização e a impossibilidade de participar da liturgia da Igreja, oficiada em latim, desenvolveram-se outras expressões da fé na língua do povo: a piedade popular, comunitária, profundamente ligada ao cotidiano da vida, mas com pouca fundamentação bíblica e teológica. As Comunidades Eclesiais de Base trouxeram para o ambiente das casas, em diálogo com a piedade do povo, o acesso à Bíblia (círculos bíblicos) e à liturgia da Igreja com um jeito mais simples, buscando a união entre a fé, a liturgia e a vida cotidiana, como pediu o Concílio Vaticano II e, na Igreja da América Latina, a Conferência Episcopal de Medellín (Colômbia).
A grande inspiração vinha das primeiras comunidades cristãs, a Igreja das casas, enraizadas, pelo batismo, nos ensinamentos dos apóstolos, na solidariedade, na fração do pão e nas orações (cf. Atos, 2,42). Sob esta luz, a reunião nas casas oferecia a oportunidade de vivenciar com maior consciência e autenticidade o mistério da Igreja, povo de Deus, discípula do Verbo, a serviço do Reino.
Nos últimos anos, a emergência de movimentos de tendência claramente conservadora e a volta ao clericalismo têm provocado um deslocamento para as grandes concentrações em torno do clero, em detrimento da soberania do povo sacerdotal e das experiências locais. No entanto, é evidente o encantamento das novas gerações, e do povo em geral, pelas experiências que possibilitam aprofundar a fé, na partilha e na escuta, nas relações interpessoais e na amizade. E o nosso querido papa Francisco tem apontado para esta direção. Mais do que nunca, é urgente considerar o sagrado espaço das casas como lugar de evangelização, de celebração e de vivência fraterna e solidária.
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