Vivemos um tempo de intensa procura por espiritualidade, na contramão da fragmentação cultural e do neoliberalismo, que induz sistematicamente ao consumismo individualista. Por toda parte, dentro e fora das Igrejas e das religiões, as ofertas são muitas e diversificadas. E sabemos: quando a fome é grande, o risco é comer qualquer coisa que possa saciar, sem discernir o que realmente alimenta. Dentro da Igreja católica, as inúmeras propostas muitas vezes estão à margem da Palavra e da liturgia, com acentuada tendência devocional, respondendo a apelos e interesses particulares.
O caminho que Jesus propõe pede uma resposta profundamente pessoal, mas se dá no âmbito de uma comunidade de fé. No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma pessoa que dá à vida (…) um rumo decisivo (VD 11). Este é o ponto de partida que crescerá no exercício da comunhão e da solidariedade. A comunidade é o ambiente espiritual que nos acolhe e nos educa na escuta pessoal da Palavra, mediada pelas Escrituras e manifestada na liturgia, na qual professamos e alimentamos a fé e pela qual somos enviados em missão.
É da fonte da tradição mais antiga e genuína, sobretudo das Sagradas Escrituras, que a liturgia tira a água que dá vida à Igreja. Nela, a Palavra resplandece, seja nas leituras proclamadas, nos salmos ou em cânticos neles inspirados, seja nas diversas formas de oração que expressam a fé da Igreja, ou ainda na pedagogia do ano litúrgico, sabiamente construído ao longo de séculos. Deste modo, a liturgia oferece um itinerário espiritual, profundamente pessoal e comunitário, sob a direção da palavra Deus.
Contudo, nada disso acontece automaticamente. A ação do Espírito, que realiza no coração dos fiéis a Palavra celebrada, requer aprofundamento e assimilação. É preciso investimento pastoral para possibilitar que o povo de Deus se aproxime da Palavra e possa descobrir a fonte inesgotável de graça que daí emana. Mais do que nunca, é tempo oportuno para retomar e qualificar a leitura orante, quer pessoalmente, quer nos círculos bíblicos, levando em conta a intima relação entre Palavra e liturgia.
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