O ícone mais representativo da participação litúrgica requerida pela reforma do Concilio Vaticano II é uma assembleia cantando a uma só voz. É quando a fé de uma comunidade reunida se expressa em sinais como o canto e a música, alguns dos mais sensíveis de nossa cultura, especialmente quando enriquecidos com nossos ritmos e com nosso gingado. Afinal, a música não é um acessório na liturgia, mas é parte integrante do rito. Com seu significado, visa suscitar na assembleia uma atitude de fé que brota do coração, seja no simples canto a capela, seja quando produzida ou acompanhada pelo som dos instrumentos, incluindo os de percussão.
A assembleia, por séculos calada, sem poder falar ou cantar, regenera-se ao ser readmitida na condição de sujeito celebrante, povo de batizados, podendo escutar e responder, cantar em coro, salmodiar, responder cantando. Quem, dos mais velhos, não se recorda da alegria que vivemos logo depois do Concílio, até mesmo nos longínquos recantos do Brasil, quando o missionário chegava com uma pequena ficha contendo salmos em versão de Gelineau e os ensaiava com os jovens, com as crianças? Era a primeira vez que cantávamos a liturgia em nossa língua!
Hoje, a Igreja do Brasil está entre as que mais investiram na música litúrgica inculturada. Temos um repertório variado, consistente e acessível, contamos com departamento específico dentro da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia e possuímos bons subsídios e espaços de formação. Apesar disso, há comunidades e grupos que teimam, sem quaisquer critérios, em utilizar cantos que nada têm a ver com o mistério celebrado. E, não raro, executados de qualquer jeito, sem o menor respeito pela assembleia em oração.
Contudo, nos anima o fato de que muitas comunidades estão conscientemente empenhadas em garantir que a música esteja em perfeita sintonia com o mistério celebrado, seja na letra, seja na melodia, seja na forma de execução. Em muitos lugares podemos testemunhar a oração da Igreja, em forma de canto, brotando do coração da assembleia. Por isso, vale qualquer esforço para não deixar perder o que foi conquistado e para seguir adiante.
O que está em jogo não é simplesmente a estética pela estética, mas a beleza como expressão da fé e como fonte de alegria e de encorajamento. Uma alegria em um encorajamento que nos preparam para assumir, de modo sempre mais profundo, um estilo de vida condizente com a fé celebrada, no cuidado com todos os seres que habitam a nossa casa comum, incluindo o cuidado com a própria terra.
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