Segundo o calendário litúrgico da Igreja, estamos em pleno tempo pascal, “curtindo”, em cada celebração e no exercício do serviço cotidiano, o dom da paz que é fruto da Ressurreição. Mais do que nunca, neste momento conturbado do nosso país, faz-se oportuno aprofundar o sentido dessa oferta recebida da tradição comum das Igrejas. Não há nada de fácil na paz que o Cristo oferece, pois se trata de uma paz conquistada a duras penas, em meio a conflitos, construída na resistência pacífica diante de poderes violentos e iníquos. É uma paz que nasce de dentro da morte e que, ao se manifestar no Ressuscitado, traz as marcas da Paixão. Eis o mistério presente no coração da memória litúrgica das Igrejas cristãs, o qual nos educa constantemente no exercício de uma ética segundo o Evangelho.
Com base nesse mesmo Evangelho, Igrejas de várias confissões, diante do atual cenário de intensas manifestações e de polarização política no Brasil, saem em defesa da democracia e da justiça, com diversos Manifestos, em atitude coerente com a fé professada. O próprio Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil [CONIC] exorta o povo brasileiro a expressar sua posição, pacificamente, sem ceder a qualquer tipo de violência ou ilegalidade, mas, ao contrário, sempre no sentido de “preservar a nossa jovem democracia, o Estado de direito e as conquistas sociais que a sociedade brasileira alcançou nos últimos anos”. O que está em jogo é o Brasil, “a garantia do Estado democrático de direito” [CNBB], sobretudo no que diz respeito à grande população pobre, em dura luta pela sobrevivência e pela sua autonomia e liberdade. Esta é a causa maior que justifica a mobilização organizada do povo, vinculada às diferentes frentes de luta, e que pedem pela igualdade de mulheres, negros, indígenas e pobres, por efetivação da educação, saúde, emprego (…). [Igreja Povo de Deus em movimento].
Há também, nos manifestos, uma chamada de atenção a certas formas de expressões de rua pois, de um lado, elas aparecem desarticuladas de qualquer proposta ou programa e, de outro, são movidas pela ideologia do ódio e da violência. Tais discursos, apesar disso, ganham espaço na grande mídia, especialmente em veículos que não só sonegam a informação, mas fazem crer como verdadeiro o que é absurdamente falso. É importante notar que a liberdade de expressão supõe responsabilidade ética e respeito à verdade, sem os quais não vai se estabelecer a verdadeira justiça. A justiça é um bem supremo, mas é preciso fugir “da justiça dos hipócritas escribas e fariseus dos dias atuais (Mt 5.20)”, de políticos que acusam quando eles próprios “estão sob suspeição por práticas delituosas”. [Igreja Presbiteriana Unida do Brasil]. A paz é um bem comum às Igrejas e a todas as religiões. Por isso, na última semana deste tempo pascal, quando as comunidades de todas as confissões cristãs se unem em oração pela unidade, alarguemos os corações invocando a paz para o mundo e para o Brasil. E que o Espírito que faz novas todas as coisas, fortaleça-nos no compromisso comum pela vitória da democracia e do povo.
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