A 32ª Semana de Liturgia, que aconteceu em São Paulo no último mês de outubro, e que foi promovida em parceria entre o Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard e a Rede Celebra, versou sobre o tema “Liturgia no Brasil: realizações, retrocessos e sinais de esperança à luz da Conferência de Medellín”. Essa temática, comemorativa dos 50 anos da II Conferência do Episcopado Latino-americana, ocorrida na Colômbia, em 1968, repercutiu de forma muito pertinente entre os participantes
do evento, levando em conta a atual conjuntura do nosso país.
A semana teve início com um grande olhar sobre o caminho percorrido nestes 50 anos, momento que foi seguido da justificativa do tema, em que se apontou para o significado da Conferência de Medellín no contexto da recepção do Concílio Vaticano II. Foi lembrado que nesse encontro do episcopado latino-americano tratou-se não de uma aplicação servil do Concílio na Igreja no Continente, mas de olhar a “Presença da Igreja na atual transformação da América Latina” à luz do Concílio Vaticano II [Cf. texto de Danilo Cesar, p. 11].
Padre Manoel Godoy nos fez revisitar os tempos de Medellín oferecendo, dessa forma, a chave para reler o documento [cf. p. 4], especificamente seu capítulo 9, que tratou da liturgia. As rodas de conversa e de vivências, retomando as implicações e conquistas de Medellín para a liturgia, resultaram em pontos luminosos como indicadores do caminho.
A afirmação de Medellín de que a “liturgia é o momento em que a Igreja é mais perfeitamente ela mesma” (Med II,3) chama para uma profunda interação tanto entre o ser Igreja e o modo de celebrar, como entre a fé professada e celebrada e a fé vivida na forma de testemunho e de serviço concreto. Isso implica, em primeiro lugar, que, na Igreja de Medellín, a qual foi inspirada no chamado pacto das catacumbas, uma Igreja pobre a serviço dos pobres, a liturgia terá que ser sóbria, segundo sugere o próprio rito romano, ou seja, despojada e elegante em sua austeridade e sem rigidez, a fim de conduzir à gratuidade do Mistério. Só uma liturgia despojada, própria de uma Igreja pobre, é capaz de ser solidária, de reclinar sobre as dores do povo e de se compadecer… Uma liturgia atenta ao sujeito celebrante, que se abaixa para lhe dar dignidade.
É verdade que vivemos tempos de retrocesso, há movimentos que vão na contramão do processo que começou no início do século 20. Mas o percurso traçado nesse período nos permitiu acessar a “reserva de reforma”, que não se esgota nem com as conquistas nem com os anacronismos. “Se não se pode mudar a fração do pão, podemos mudar o jeito de acender a vela”, com a consciência de que isso é fidelidade à reforma do Concílio, sem a qual não estamos na plena comunhão com a Igreja.
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