Toda celebração cristã é memorial da páscoa de Jesus Cristo. Mas, a cada ano, retomamos o costume das Igrejas de consagrar um tempo especial para preparar e celebrar, com mais intensidade, a memória de sua vida, morte e ressurreição. Chamamos ciclo pascal o período que vai da quarta-feira de cinzas ao domingo de pentecostes. No coração desse ciclo, a celebração de vigília na noite santa da ressurreição do Senhor é uma das experiências mais fundamentais da Igreja, “noite pascal, por todo um ano esperada”, conforme a poética expressão de Astério de Amaséia (s. IV), “mãe de todas as vigílias”, no dizer de Santo Agostinho (s. V).
Acendemos, na escuridão da noite, pequenas tochas e caminhamos rumo ao amanhecer. Ouvimos o testemunho dos patriarcas e profetas relembrando o agir de Deus no decorrer da história e entoamos o aleluia da vitória que transformou a morte em Ressurreição. Vamos até as águas batismais para acolher os novos membros da Igreja, a fim de sermos, nós mesmos/as, renovados/as nas fontes que brotam da vida nova de Jesus, e para nos alimentarmos com o pão da vida e com o vinho novo da sua páscoa.
A noite, toda iluminada, é uma imagem eloquente da esperança que move o coração da humanidade, a qual ainda crê na luz oculta do Ressuscitado vencendo a escuridão deste mundo. Um luminar visível em todo gesto contrário aos genocídios e nas vozes a profetizar que “não há futuro sem partilha, nem Messias de arma na mão”. Quanto mais escuro se faz, mais necessitamos acender a chama que se opõe às trevas.
Assim, desde já, vamos concentrando as energias, aprontando as lamparinas, tecendo, fio por fio, a roupa da festa, preparando a comida a ser partilhada e ensaiando o canto novo da páscoa, arriscando mais uma vez viver por amor, como exercício de conversão e como obra de penitência. Não se trata simplesmente de uma conversão moral, trata-se, antes, da conversão a Deus, como fez Jesus no deserto. A partir de uma nova escolha por Deus, a pessoa e a comunidade podem começar a pensar e a julgar de modo diferente, a orientar a vida de outra maneira, a tomar iniciativa no amor. Nesse sentido, a CF indica o caminho concreto – ver, sentir e cuidar!
A nossa escolha é resposta à iniciativa de Deus que reconcilia o mundo em si mesmo, no seu amor, e nos convida a passar da morte à vida amando, como fez Jesus, o seu filho. Assim, nós nos preparamos para celebrar a páscoa “não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com pães sem fermento, isto é, na pureza e na verdade” (1Cor 5,8).
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