Revista de Liturgia Edição 103 – Trabalho e celebração

Manhã cedo de cada dia, o ponto de ônibus lotado…
Quem não conhece esta cena
costumeira em toda grande cidade de nosso país?
De manhã à noite, de segunda a sábado,
mulheres e homens deixam suas casas, na cidade ou no campo,
para vender sua força, seu tempo quase inteiro num
trabalho qualquer que lhes dê garantia de sobrevivência…
O corre-corre da realidade urbana não dá descanso.
É como se a vida fosse uma peça indispensável
na engrenagem que roda o sistema. E a gente se pergunta,
se nesta “roda viva” há ainda lugar para
algo mais gratuito. Até parece que no ritmo do tempo
em que vivemos não há mais espaço para coisas
como oração, liturgia, descanso…
Por outro lado busca-se cada vez mais o lazer e a festa
para equilibrar a vida; há por toda parte
a procura de um sentido que norteie esta corrida
que envolve a humanidade inteira. Se não fosse assim,
será que as seitas fariam tanto sucesso?
Perguntamos então pelo significado da liturgia na vida
de tantos homens e mulheres que, a cada domingo, chegam em
nossas comunidades para celebrar.
É gente que vem do cansaço de longas horas,
por um salário que não lhe dá um mínimo de dignidade.
Sem falar das pessoas que estão passando pela experiência
do não-trabalho, do desemprego… Será que encontram
em nossas celebrações novo alento para sua esperança e
reforço para a sua luta, sem alienação?
Este número de nossa Revista, traz alguns elementos
para aprofundar tal questão, no contexto
da Campanha da Fraternidade deste ano sobre
a dignidade do trabalho. Não se trata de um tema
a ser “refletido” e “cantado” dentro da celebração.
É antes, a própria liturgia que deve incorporar
em sua linguagem simbólica e ritual as imagens e os gestos
que expressam as lutas, as conquistas
e toda a experiência do povo trabalhador.
Buscamos junto com todos e todas vocês um jeito
de celebrar a Quaresma como caminhada para a Páscoa,
no empenho concreto para vencer toda a morte
e buscar a vida e a dignidade no mundo do trabalho.