Neste ano em que a Igreja Católica Romana, junto com outras Igrejas, promove uma Campanha da Fraternidade pela solidariedade e a paz, no momento em que a Paz se torna uma aspiração universal, um caminho trilhado por pessoas, grupos, organismos internacionais… nossa Revista procura responder à pergunta: em que as nossas assembleias litúrgicas podem contribuir no esforço de educar para a paz? Mais especificamente, qual a relação entre eucaristia e educação para paz, neste
ano em que o olhar de nossas comunidades estará voltado para o mistério eucarístico, buscando uma maior compreensão, vivência e um jeito de celebrar coerente com o mandato de Jesus: “façam isto em memória de mim”.
João Paulo II, no Dia Mundial da Paz deste ano de 2005, tomou como eixo de sua mensagem, “Não te deixes vencer pelo mal; vence antes o mal com o bem (Rm 12,21)”. Considera ser esta a “única opção” diante dos “dramáticos cenários de violência em várias partes do mundo e dos indescritíveis sofrimentos que deles decorrem”.
De um lado, trata-se de renunciar, com “lucidez consciente”, a todo tipo de violência, contrária à verdade da nossa humanidade, uma vez que a violência destrói o que ambiciona defender. De fato, segundo João Paulo II, “o mal não é uma força anônima que age no mundo devido a mecanismos deterministas e impessoais, tem sempre o rosto e o nome de homens e mulheres que o escolhem livremente. Portanto, podemos decidir não adotar este caminho que João Paulo denomina “trágico esquivar-se às exigências do amor”.
De outro lado, “é indispensável promover uma grande obra educadora das consciências que forme a todos, sobretudo às novas gerações, para o exercício do bem”, no cultivo de “atitudes nobres e desinteressadas de generosidade e de paz (cf. Rm 12,17-21)”. A base desta obra é o amor levado até às últimas consequências, até ao amor pelos inimigos: “Se o teu inimigo tem fome, dá-lhe de comer; se tem sede, dá-lhe de beber” (Rm 12,20).
Esse caminho envolve desde o pequeno espaço do cotidiano das pessoas, das famílias, até as relações entre comunidades e nações, até as lutas e propósitos de combate à miséria e à exclusão social. Em todos esses níveis a Igreja quer ser presença atuante e solidária, não com o seu poder, mas em sua fraqueza, pois, conhecendo o quanto é difícil trilhar o caminho da paz
quando tantas vozes se levantam para proclamar a eficiência das armas contra o terrorismo, “confessa que só Deus torna possível à pessoa e aos povos a superação do mal para alcançar o bem”.
A Liturgia, memória de Jesus, o servo de Deus, que venceu o ódio com o amor até o fim, é certamente um lugar privilegiado de educação para a paz. Fazemos nossas as palavras de João Paulo II ao concluir sua mensagem: “Neste ano dedicado à Eucaristia, os filhos e filhas da Igreja encontrem no supremo sacramento do amor a fonte de toda a comunhão: comunhão com Jesus Redentor e, nele, com todo o ser humano. (…) Graças à vida nova que ele nos deu, podemos nos reconhecer irmãos para além de toda a diferença de língua, nacionalidade, cultura. Numa palavra, é graças à participação do mesmo Pão e do mesmo Cálice que podemos nos sentir ‘família de Deus’ e, juntos, contribuir específica e eficazmente para a edificação de um mundo baseado nos valores da justiça, da liberdade e da paz”.
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