O Concílio Vaticano II afirmou ser a liturgia, sobretudo a eucaristia, cume e fonte da vida e missão da Igreja, resgatando a relação entre eucaristia e espiritualidade, a partir da celebração. Dessa maneira o Concílio corrigia também o divórcio, ocorrido no segundo milênio, entre celebração e teologia.
No primeiro milênio, a fonte da teologia e da catequese eram as Sagradas Escrituras e a liturgia. O método empregado para o estudo partia do rito para chegar à teologia e à espiritualidade, seguindo o exemplo dos Pais da Igreja que não refletiam teoricamente sobre a eucaristia e os demais sacramentos, mas partiam do que os fiéis haviam vivenciado na celebração, para daí, explicitar o sentido do sacramento. Um caminho inverso ao trilhado no segundo milênio pelos teólogos da Escolástica seus herdeiros.
De um lado, a teologia e a catequese, sem referência à experiência simbólico-sacramental
da fé, transformaram-se em racionalismo. Do outro, a celebração litúrgica, destituída de teologia e sem vivência espiritual correspondente, reduziu-se a um conjunto de ‘cerimônias’ executadas com exatidão, mas sem alma. As devoções, também eucarísticas, e as escolas de espiritualidade desvinculadas da liturgia, surgem em conseqüência dessa realidade.
O movimento litúrgico que teve início no final do século XIX, culminando no Concílio Vaticano II, enfatizou a importância de re-unir liturgia e devoção (mística), liturgia e teologia, chegando a uma compreensão teológica da liturgia. Pio XII, na Mediator Dei (1947), afirma ser a liturgia de natureza teológica, não mera exterioridade, e a define como culto público de Cristo e da Igreja ao Pai (exercício do sacerdócio de Jesus Cristo).
No que diz respeito à definição de liturgia, a SC retoma a Mediator Dei, afirmando ser a liturgia o exercício da função sacerdotal de Cristo e da Igreja (cf. SC 7), mas introduz o novo conceito de liturgia como memorial do mistério pascal de Jesus, em profunda e decisiva relação com a história, com suas raízes bíblica e patrística. Uma profunda reforma foi realizada em busca de
aproximação entre a celebração da fé e suas fontes primeiras, judaicas e cristãs. Quanto ao estudo, o ponto de partida terá que ser o próprio rito; e o parâmetro de compreensão, as Sagradas Escrituras (AT e NT), identificando nelas o que se refere ao rito em questão.
No entanto, muitas celebrações de nossas comunidades não parecem ter assimilado o espírito da reforma; sem densidade teológica, nelas prevalece o formalismo e a superficialidade. Dificilmente serão referências para a catequese e para a espiritualidade. Ao mesmo tempo, mesmo nos casos em que se pode contar com uma significativa experiência celebrativa, nem sempre a catequese leva suficientemente em conta a liturgia como uma escola de catequese.
Nossa revista chama a atenção para uma pedagogia de educação da fé que tenha como ponto de partida a experiência simbólica da fé. Não se trata de fazer catequese dentro da celebração, mas de partir da experiência da fé, vivenciada no momento celebrativo, para chegar à compreensão da fé e habilitar as pessoas a descobrir a liturgia como “a primeira e mais necessária
fonte de espiritualidade” (SC 14).
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