O Concilio Vaticano II rompeu com uma visão de Igreja fechada em si mesma e abriu as portas para o diálogo com o mundo, com as demais confissões cristãs e com as religiões da humanidade. Sintonizou-se, também, com as grandes causas do Evangelho, colocando-se como testemunha, a serviço do Reino. O Concilio, porém, não conseguiu concretizar o sonho de João XXIII, com respeito à estruturação de uma Igreja que fosse “pobre e dos pobres, para ser de todos”, mas, de outra forma, abrigou o gesto profético de 40 bispos do mundo inteiro, os quais, corajosamente, articularam, durante o Concilio, o chamado “Pacto das Catacumbas”, em defesa de uma Igreja que tivesse a diretriz pretendida pelo papa. O Pacto chamava a atenção para a importância do testemunho pessoal no anúncio do Evangelho e enfatizava que também a instituição precisa despojar-se para ter credibilidade. Após o Concilio, esse compromisso foi assinado por 500 dentre os padres conciliares.
Três anos depois, quando os bispos da América Latina se reuniram em Medellín para a sua II Conferência, tinham como horizonte a necessidade de realizar uma recepção criativa do Concilio, contextualizada num continente em transformação. O Pacto das Catacumbas exerceu grande influência nesse processo, até porque muitos dos bispos que o haviam assinado eram
da América Latina. Entre eles, o bispo brasileiro Hélder Câmara fora o principal redator das treze proposições ali formuladas e teve, também, seu protagonismo em Medellín.
Fiel ao Pacto, a conferência de Medellín mostrou que tratava-se não só de fazer opção pelos pobres, mas de se colocar no seu lugar social, assumindo um estilo de vida e de moradia modesto e de caráter funcional, sem aparato e sem ostentação [cf. Med 14]. Neste novo contexto, o sujeito eclesial deixa de ser o clero para ser a comunidade de todos os fiéis batizados, em
igualdade de condição, mesmo havendo diversidade de ministérios.
As Comunidades Eclesiais de Base, alicerçadas em uma leitura popular da Bíblia, foram reconhecidas como a expressão mais concreta da Igreja pobre a serviço dos pobres e, assim, constituíram-se como uma experiência eclesial que se tornou um ambiente favorável para o surgimento de ministérios leigos, tanto de homens como de mulheres [participando nos conselhos, na organização das pastorais, na liturgia e nos movimentos sociais].
Nas últimas décadas, no entanto, estamos assistindo a um retorno à pastoral centrada no clero e na paróquia, em detrimento do atual conceito de Redes de Comunidades e da sua “autonomia”. As CEBs se tornaram, no dizer de Carlos Mesters, “uma flor indefesa”. Contudo, em Londrina, o 14º Intereclesial reacendeu mais uma vez a esperança de ser Igreja pobre, a serviço dos pobres, Samaritana, como tão ardentemente deseja o papa Francisco.
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