Na Revista de Liturgia Edição 277, comemoramos, com alegria, o bom êxito de todo o processo que culminou com a realização, em Roma, entre os dias 7 e 27 de outubro de 2019, do Sínodo para a Amazônia. Um caminho que envolveu um trabalho imenso, iniciado em 2017, com a escuta das comunidades indígenas e ribeirinhas. Todo este esforço para vencer as distâncias e dificuldades no imenso território amazônico garantiu que a voz dos amazônidas chegasse à sala sinodal. Além disso, merece ser celebrada, também, a maneira como os trabalhos foram conduzidos, permitindo que as vozes desses povos fossem, de fato, ouvidas, respeitadas, levadas a sério. Dessa forma, ressoou, nesse sínodo, o clamor da terra e o grito dos pobres, o brado de uma Igreja que anseia pelo reconhecimento de sua identidade e de seu chão cultural. Assim, com esse evento sinodal, abrem-se portas e janelas para o futuro da Igreja amazônica e de toda Igreja, da humanidade e de toda a terra.
Entre os muitos temas trazidos à pauta, a urgência de passar de uma pastoral de visita para uma pastoral de presença levou o sínodo a tocar no assunto do presbiterado de homens casados “para sustentar a vida da comunidade cristã através da pregação da Palavra e da celebração dos Sacramentos nas áreas mais remotas da região amazônica” (Documento final n. 111). Além disso, no que se refere às mulheres, pediu-se também, no encontro, tanto os ministérios leigos do leitorado e do acolitado, como um
ministério da “mulher líder da comunidade”.
São questões importantes, que vêm ao encontro de uma Igreja a qual, a partir do Concílio Vaticano II, protagonizou a passagem de uma religião de devoções para a valorização do domingo e da celebração da Palavra. Nesse sentido, dom Sergio Eduardo Castriani, arcebispo de Manaus, escrevendo a introdução do livro Celebração da Palavra no Dia do Senhor, editado pelo
regional Norte I, recorda o significado desse processo: “As prelazias e dioceses, com suas coordenações de pastoral, fizeram um esforço gigantesco para formar celebrantes e assembleias de fieis que cada semana se reúnem para dar testemunho de sua fé e alimentá-la pela escuta da Palavra, pela intercessão comunitária, pelo louvor e ação de graças”.
Assim, na impossibilidade de fazer a Ceia do Senhor, por falta de ministros ordenados, a Igreja da Amazônia descobriu, no rico tesouro da fé da Igreja, a celebração da Palavra, que, com sua “sacramentalidade”, traz a possibilidade de honrar o domingo fazendo a memória litúrgica da ressurreição do Senhor. Segundo dom Sergio, “esse movimento trouxe a convicção de que
só existe uma comunidade católica onde acontece a celebração dominical”. E ainda: “Se quisermos salvar o cristianismo é necessário voltar a guarda o Dia do Senhor, e no coração deste dia, a reunião da assembleia que é seu corpo”.
Agora, as comunidades que vivem segundo o domingo, participando da Celebração da Palavra que faz presente o Mistério Pascal (cf. Doc. De aparecida, n. 253), poderão celebrar a Ceia do Senhor. Ao mesmo tempo, sendo parte estruturante da liturgia da Igreja e tão presentes nas comunidades amazônicas, as celebrações da Palavra, de um lado, ajudarão a
enriquecer a experiência de fé da comunidade e, de outro, contribuirão para que a experiência litúrgica não caia na banalização da eucaristia em decorrência de sua supervalorização.
Janeiro e Fevereiro de 2020
36 Páginas
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