Já estávamos fechando esta edição da Revista quando chegou a notícia da páscoa do nosso querido Pedro, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. Poeta, profeta, pastor, defensor dos direitos dos pobres, um homem de grande envergadura humana e espiritual, confessor da fé e fiel testemunha do Reino.
O singelo relato sobre sua vida que trazemos em nossa revista é um pequeno sinal da gratidão imensa que lhe devotamos, por quanto recebemos de sua vida, de sua palavra, do seu jeito de ser Igreja e da sua maneira de celebrar a fé, sempre profundamente ligada ao cotidiano da vida, à luta pela cidadania e às grandes causas da humanidade.
O vazio deixado por sua partida se soma ao luto pelas cem mil vidas ceifadas em consequência da covid-19 e do descaso do governo. Todas e todos somos atingidas e atingidos de alguma forma por esta tragédia: são pessoas que têm nome, história, dignidade, e entre as quais figuram, também, rostos de parentes e de tantos amigos e amigas que se vão.
E enquanto a instabilidade permanece, a palavra de ordem é ficar em casa, cuidar e cuidar-se. Que ninguém se arrisque, sem
verdadeira necessidade, nem mesmo para ir à igreja, porque numa hora como esta que estamos vivendo, a vida está em primeiro lugar.
Em vez disso, podemos cultivar o hábito de nos reunir em nome de Jesus para sinalizar que somos o seu corpo quando celebramos em seu nome.
Assim, o espaço doméstico, tão pequeno e tão esquecido nas grandes narrativas, está ganhando visibilidade e, com ele, a Igreja
e a liturgia da casa. Voltamos aos tempos de Jesus, que tantas vezes visitou as casas do povo, conviveu com as pessoas, sentou-se à mesa e se reuniu com os seus para dialogar e para partilhar o pão.
Na casa, o protagonismo é dos fiéis leigos, especialmente da mulher. A liturgia da casa terá uma forma simples, essencial, que
poderá ser presidida sem dificuldade por alguém da família. Por ela, podemos alegrar-nos com a presença de Jesus em nosso meio, escutar e meditar a palavra de Deus, erguer a Ele os nossos corações em preces, partilhar o pão da nossa mesa em ação de graças.
Esta experiência, digamos, forçada pela pandemia, aponta para um futuro, que já se faz presente, de uma Igreja que redescobre
formas concretas de exercer o sacerdócio comum dos fiéis, na vida e na liturgia.
Avaliações
Não há avaliações ainda.