A recepção do Concílio Vaticano II, ocorrida em nossa Igreja latino-americana a partir da grande Conferência Episcopal
do continente, que se realizou em Medellín, em 1968, significou uma verdadeira revolução: a Igreja deixa de ser uma hierarquia
para ser povo de Deus; na liturgia, o fiel sai da posição de “mudo expectador” (SC 48) para ser sujeito ativo e consciente. Abriram-se locais para uma experiência concreta de Igreja em pequenas comunidades, reunindo-se nas casas, num salão comunitário, em lugares mais simples, em movimento circular.
Ainda que esse espírito venha arrefecendo e cedendo espaço para um neoconservadorismo, no qual o padre é figura central, em
detrimento do protagonismo de todos os batizados, processo que se tem evidenciado com o isolamento social neste tempo de pandemia, muitas famílias tem se valido dessa mesma ocasião para celebrar nas Igrejas das suas casas, seja mediante a oração dos salmos, feita a partir do Ofício Divino das Comunidades, seja pela escuta das Escrituras, ditadas pela liturgia diária e semanal.
Desse modo, estamos vivenciando outras maneiras de celebrar a fé, que haviam sido esquecidas, mas que pertencem à liturgia
da Igreja, como o são a Celebração da Palavra de Deus, o Ofício Divino, as bênçãos, além da Piedade Popular. Vale lembrar, nesse sentido, que a missa não esgota toda a dimensão eucarística da Igreja. Assim, quando celebramos o ofício divino na hora do sol poente, no ofício da tarde, estamos oferecendo um sacrifício de louvor, em ação de graças (=eucaristia); quando nos reunimos na hora do sol nascente para celebrar o ofício da manhã, estamos, igualmente, elevando a Deus nossa oração de louvor. Outro exemplo do caráter sacramental desses momentos celebrativos é a oração de agradecimento feita à mesa das refeições, que tem, também, uma dimensão profundamente eucarística.
Graças ao batismo, qualquer núcleo familiar, nas suas várias configurações, é uma pequena Igreja, uma Igreja doméstica, conforme reconheceu o Concílio Vaticano II. Ela realiza em pequena medida o que pertence a toda a Igreja, ainda mais quando agrega na pequena assembleia da casa, vizinhos e amigos para a oração comum. E assim como a Igreja é a casa da Palavra, por ser a liturgia lugar de revelação de Deus, também as nossas casas correspondem a essa estatura de “casa da Palavra”.
Decididamente, o Ofício Divino das Comunidades tem se oferecido como expressão comunitária da fé, com toda a sua riqueza
bíblica e sua ritualidade, com seu estilo simples e popular, capaz de proporcionar uma experiência de fé profunda e de educar nossos sentimentos e pensamentos, nossas palavras e ações.
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