A Carta Apostólica Desiderio Desideravi, publicada no dia 29 de junho de 2022, com a qual o papa Francisco
se dirige ao povo de Deus, segue a mesma orientação que havia sido dada por outra Carta Apostólica, a Traditionis
Custodes, esta endereçada somente aos bispos e lançada em julho de 2021. Tal direção comum se dá uma vez que
ambas se referem à única lex orandi do rito Romano, qual seja, os livros litúrgicos reformados por determinação do Concílio Vaticano II.
Dirigindo-se, agora, ao povo de Deus, o papa como que relança a reforma litúrgica do Concílio, repropondo a liturgia como “dimensão fundamental
da Igreja”, reafirmando o seu sentido teológico e convocando a Igreja para uma tarefa urgente e inadiável: uma formação séria e vital “à liturgia
e a partir da liturgia”, em função “de cada fiel que crê em Cristo”.
Como não recordar das palavras tão eloquentes com que Paulo VI, no dia 4 de dezembro de 1963, saudou o primeiro fruto do Concílio Vaticano
II, a Constituição Sacrossanctum Concilium: “Exulta o nosso espírito por este resultado. Vemos que se respeitou nele a escala dos valores e dos
deveres: Deus, em primeiro lugar; a oração, a nossa obrigação primeira; a liturgia, fonte primeira da vida divina que nos é comunicada, primeira
escola de nossa vida espiritual, primeiro dom que podemos oferecer ao povo cristão, que junto de nós crê e ora, e o primeiro convite dirigido ao
mundo para que solte a sua língua muda em oração feliz e autêntica e sinta a inefável força regeneradora, ao cantar conosco os divinos louvores
e as esperanças humanas, por Cristo Senhor nosso e no Espírito Santo”.
Foi justamente este o grande desejo do Concílio: “oferecer ao povo cristão” a liturgia como “escola de vida espiritual”, “fonte primeira da
vida divina que nos é comunicada”. A finalidade última da reforma litúrgica coincide com a do próprio Concílio, descrita no primeiro artigo da sua
Constituição litúrgica: “promover a vida cristã”. Eis porque escolhemos, como tema dominante desta edição, a assembleia litúrgica, primeiro “sacramento”
que torna visível o que, durante a vida terrena de Jesus, podia ser visto com os olhos e tocado com as mãos, suas palavras e seus gestos.
Além disso, continuamos também a programação que assumimos para este ano, sobre o tema do Missal Romano, na expectativa da versão brasileira
da sua terceira edição. Neste número da nossa Revista, incluímos, ainda, uma singela recordação do nosso querido Marcelino Sivinski, que
fez sua páscoa no dia 20 de junho de 2022, ele que dedicou toda a sua vida,incansavelmente, atuando em diversos níveis da vida da Igreja no Brasil,
pela recepção criativa da reforma litúrgica determinada pelo Concílio Vaticano II. A ele nossa gratidão pelo apreço que sempre manifestou por
nossa revista e pela efetiva colaboração.
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