Entre os dias 11 e 15 de novembro se realizará, em Recife-PE, o 18º
Congresso Eucarístico Nacional, com o tema “Pão em todas as
mesas”. Serão cinco dias de intensa experiência espiritual, que
terão a finalidade de reavivar, nos corações dos fiéis, o profundo sentido
do Mistério eucarístico, sacramento central da vida eclesial, máxima
expressão da Liturgia da Igreja, primeira fonte da nossa fé.
Certamente, na ampla programação do evento, que inclui catequese,
simpósio teológico e outras atividades, as celebrações terão a maior
importância, pois é a ação ritual, com sua linguagem própria, que pode
garantir, pela “verdade dos sinais”, uma boa compreensão do mistério
(SC 48). Mais do que nunca é necessário libertar a eucaristia da formalidade
legal, para devolver a ela a sua condição de Ceia memorial, na
“nobre simplicidade” do rito romano, o qual, por sua vez, está enraizado
na Ceia que Jesus celebrou, numa casa, com seus discípulos e discípulas,
antes da paixão.
A primeira teologia da eucaristia nós recebemos da própria celebração.
Nesse quesito, vale lembrar as palavras do papa Francisco na carta
Apostólica Desiderio Desideravi, quando recomenda cuidar de todos os
aspectos da celebração: espaço, tempo, gestos, palavras, objetos, vestimentas,
cantos, música…“, para não furtar a assembleia do que lhe é devido,
isto é, o mistério pascal celebrado na modalidade ritual que a Igreja
estabelece” (DD 23). E isso para conduzir a assembleia a uma atitude de
admiração “de quem experimenta a força do simbólico, que não consiste
em uma referência a um conceito abstrato; mas sim, em conter e expressar
concretamente, aquilo que significa” (DD 26).
O resultado dos momentos de catequese, das exposições teológicas e
das oficinas programadas no evento dependerá de uma referência comum,
sinodal, de celebração eucarística, promovida pela organização do congresso.
Em nossa tradição, o próprio rito, entendido não apenas como
livro, mas vivenciado no corpo eclesial, é o eixo da teologia litúrgica.
Essa referência comum é determinante, dadas as muitas distorções que
vêm acontecendo em decorrência de uma tendência ultraconservadora, a
qual vai se infiltrando nas comunidades, com acento no dogmatismo e no
devocionalismo. Decorre dessa equação um reforço ao clericalismo e uma
vivência sacramental distanciada dos fatores eclesial, bíblico, teológico,
pastoral e celebrativo.
Reconhecer a liturgia na sua capacidade teológica, mais que agregar
conhecimentos a respeito da fé, conduz, outrossim, à experiência de encontro
e de relação com o mistério de Cristo. Ele, Sacramento primordial,
é a fonte da vida que nunca seca e que sacia a sede dos fiéis com água
viva (Jo 4,10.14), tirada não de poços rotos e contaminados (Jr 2,13),
mas do próprio lado de Cristo (Jo 19,34). A Eucaristia, assim como toda
a Liturgia, é inequivocamente a límpida fonte do espírito verdadeiramente
cristão (SC 14).
Em tempos de depauperação da espiritualidade, de devocionismos e
de propostas religiosas duvidosas que mais confundem e exploram a fé
do povo de Deus, convém beber água limpa e receber o vinho novo das
núpcias do Cordeiro (cf. Jo 2,1-11). Por isso é norma da fé, sentido último
da reiterada afirmação do papa Francisco de ser a liturgia reformada após
o Vaticano II a única lex orandi do rito romano.
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