Abrimos esta edição da Revista com um relato sobre as liturgias celebradas no 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs), que ocorreu em Rondonópolis-MT, em julho deste ano, uma ocasião de verdadeira epifania da Igreja, que, em meio a retrocessos e, inclusive, de calúnias internas, insiste em manter-se fiel à sua experiência originária, resgatada pelo Concílio Vaticano II.
Organizadas em pequenas comunidades, alicerçadas na leitura popular da Bíblia e inseridas no lugar social dos pobres, as CEBs, tantas vezes criticadas por supostamente não seguirem o rito romano, demonstraram, mais uma vez, sua fidelidade à Liturgia da Igreja. E, desse modo, deram um exemplo de efetivação daquilo que recomendam as conclusões da Conferência de Medellin: “uma experiência vital da união entre a fé, a liturgia e a vida cotidiana”. Além disso, em consonância com esse mesmo documento, nas celebrações dos intereclesiais sempre fica evidente, também, “a mútua fecundação entre liturgia e piedade popular”. No caso desta edição do evento, esse aspecto se verificou, sobretudo, pelas celebrações diárias, que foram organizadas aos moldes do Ofício Divino das Comunidades, versão popular da Liturgia das Horas, o qual foi elaborado levando em conta três raízes inseparáveis: a tradição litúrgica do rito romano, a piedade popular e a caminhada da Igreja latino-americana, primando por uma liturgia pascal com os pés no chão da vida. Assim, a Revista de Liturgia, que tem acompanhado os intereclesiais desde o seu 5º encontro, realizado em Canindé-CE, em 1983, tem a alegria de inserir esse testemunho de diaconia eclesial nesta edição, como marco na comemoração dos seus 50 anos de serviço à Igreja.
Também neste número, aliás, dom Emanuelle, monge camaldolense, escreve justamente sobre a diaconia como dimensão constitutiva da Igreja, apontando o caminho sinodal como aprendizado de um estilo de Igreja diaconal, não só internamente como também na sua relação com o mundo. João Paulo, dentro do programa “verbos para entender a Sacrosanctum concilium”, aprofunda. desta vez, o sentido que têm, nesse documento, o verbo “participar” e seu substantivo derivado
“participação”: conceitos tão evocados em nossa prática litúrgica, mas ainda carentes de uma compreensão mais precisa e abrangente. E Marlon Ramos, traz mais um exemplo de leitura litúrgica da Bíblia, tomando como referência o 26º domingo do Tempo Comum do ano A.
Marcio Pimentel, por sua vez, põe em destaque a contribuição de Domingos Ormonde no que se refere à liturgia na catequese. Inúmeros foram os seus escritos em nossa Revista de Liturgia, distribuídos em diferentes séries de artigos: uma série sobre iniciação cristã de jovens e adultos, publicada de 2001 a 2006; uma sobre catequese litúrgica, publicada entre 2007 e 2008; uma sobre liturgia e vida como caminho de espiritualidade de jovens e adultos, publicada entre 2012 e 2014; e uma sobre liturgia na catequese, publicada entre 2019 e 2020. A contribuição de Domingos é valiosa, não só pelo estudo minucioso e preciso do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos e de suas consequências para a catequese de iniciação, mas, especialmente, por seu esforço em tornar as orientações desse documento viáveis para a prática pastoral.
Registramos, ainda, nesta edição, a páscoa de dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo emérito de Mariana-MG, e seu legado como resultado de um trabalho incansável no processo da reforma da Liturgia no Brasil e na América Latina. A Ele nossa eterna gratidão.
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