tema da Campanha da Fraternidade de 2024 – Fraternidade e amizade social – inspirado na Carta encíclica Fratelli Tutti, do papa Francisco, publicada em 2020, é mais que oportuno e urgente neste momento em que a humanidade é assolada por duas grandes guerras, com milhares de mortes e exílios em massa, e por extremismos que põem em risco a convivência humana.
Em sua encíclica, Francisco deseja ardentemente “fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos”. E argumenta, citando um trecho de um discurso também seu: “Aqui está um ótimo segredo para sonhar e fazer da vida uma aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente […]; precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual possamos nos ajudar mutuamente a olhar em frente. Como é importante sonhar juntos! […]”. Ele continua: “Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos os irmãos” (FT, n. 8).
A razão para promover fraternidade e amizade social é ditada por Jesus no Evangelho: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). A conversão como apelo quaresmal nos coloca neste caminho novo de exercitar a amizade para além do nosso grupo, da nossa comunidade ou da família à qual pertencemos, alargando o raio na direção de todas as fronteiras onde seres humanos vivem na pobreza, na solidão, na invisibilidade… A amizade social é sem fronteiras, sem ser, porém, genérica. Ao contrário, ela é concreta e historicamente situada; além disso, não faz distinção de gênero, cultura ou classe, de modo que se torna visível em toda forma de solidariedade.
A liturgia em si, como ação do corpo ressuscitado de Cristo, que é a comunidade, e por sua natureza inclusiva de todas e todos
que trazem em suas vidas as marcas da paixão (cf. 2Cor 4,10- 11), é certamente uma fonte de amizade social, pois a supõe e a promove. E esses aspectos se tornam ainda mais evidentes na liturgia quaresmal, uma vez que ela abriga com mais força, em termos da ação memorial, a cruz de Cristo, preço de sua amizade com as pessoas fragilizadas, excluídas, desamparadas, sozinhas.
Nossa Revista, neste ano de 2024, propondo um diálogo entre a Carta Desiderio desideravi e o Missal Romano, em sua terceira
edição, quer aprofundar o quanto a reforma do Concílio Vaticano II restabeleceu a liturgia como “sinal sensível” de “tudo o que era visível de Jesus, o que podia ser visto com os olhos e tocado com as mãos, suas palavras e gestos, a concretude do verbo encarnado” (DD, n. 9). que armou sua tenda entre nós e se fez amigo da humanidade.
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