A nossa fé no Cristo crucificado-ressuscitado nasce na manhã da Páscoa, de uma pedra removida e do túmulo vazio. As
mulheres discípulas que andaram com Jesus pela Galileia e que subiram com ele a Jerusalém foram de madrugada, com seus perfumes (miróforas), ungir o corpo de Jesus. Elas sabiam bem qual era o local, pois haviam acompanhado Jesus até a cruz e assistiram o seu sepultamento.
Porém, foram surpreendidas com a tumba vazia e puderam ver que ele não estava no lugar onde fora colocado, de modo que ficaram desapontadas, já que a tumba é um marco que guarda a memória da pessoa que se separou do convívio humano mediante a morte. E se não estava ali, as mulheres certamente pensaram, onde estaria o corpo de Jesus? Sua memória poderia se perder… Eis porque, no relato de João 20,10-18, Madalena insiste com o jardineiro sobre o paradeiro do corpo do seu Mestre. De outra forma, mais do que no túmulo, a ausência do corpo cria um “vazio” na vida dos seus discípulos e das suas discípulas.
Mas de acordo com todos os relatos as mulheres ficaram sabendo que Jesus, o que fora crucificado, está vivo. E foram enviadas
para dizer aos irmãos a boa notícia. O túmulo vazio marca, para os discípulos e discípulas, um novo começo de fé e seguimento,
de encontro e escuta, não como antes, quando andavam com ele pelas estradas da Palestina, mas de uma forma que fez com que a comunidade fosse aos poucos descobrindo a sua presença na memória de seus gestos e de suas palavras.
O papa Francisco, na Carta Desiderio Desideravi, sobre a formação do povo de Deus,escreveu: “Desde o início, a Igreja
compreendeu, iluminada pelo Espírito, que tudo o que era visível em Jesus, o que podia ser visto com os olhos e tocado com as mãos, suas palavras e seus gestos, a concretude da Palavra encarnada, havia passado para a celebração dos sacramentos” (n. 9). Ou seja, é no corpo da Igreja em oração, no conjunto da sua liturgia, que o corpo ressuscitado de Cristo se manifesta presente.
Na liturgia, corpos se encontram para constituir-se em um só corpo, sacramento do corpo ressuscitado do Verbo de Deus que
continua a manifestar-se numa linguagem corporal coerente com o mistério da encarnação: no ato de se reunir, na recordação de suas experiências com ele, na memória das suas palavras, no dar graças, no partir o pão, no abençoar, no perdoar e no receber perdão. Assim, animada pelo seu Espírito, a comunidade celebrante é impulsionada a fazer o que ele fez, também no concreto da vida de cada dia, na missão, no comprometimento com as grandes causas em defesa da vida, na ética e no engajamento político, em busca do bem comum, sobretudo dos que vivem na vulnerabilidade.
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