Em 2015, o papa Francisco estabeleceu a data de 1º de setembro como dia de oração pelo cuidado da criação, em sintonia com o tema da sua encíclica “Laudato si”, sobre o cuidado da casa comum, uma decisão que tem sentido ecumênico, já que a Igreja ortodoxa celebra tal efeméride desde 1970. Esse dia de oração dá início ao chamado tempo da criação, que segue até 4 de outubro, quando a Igreja celebra a memória de Francisco de Assis, o santo amigo e irmão da natureza.
Na ocasião, o papa justificou esta iniciativa como “oportunidade de renovar a adesão pessoal à própria vocação de cuidadores da criação, elevando a Deus uma ação de graças pela maravilhosa obra que Ele nos confiou, invocando sua ajuda para a proteção da criação e sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo no qual vivemos”.
A mensagem do papa, divulgada no dia 27 de junho de 2024 para a celebração deste ano, inspirada na carta aos Romanos 8,19-
25 e sugerindo, como tema, “Espera e age com a criação”, enfatiza que “toda criação geme”, “os cristãos gemem” e “o próprio Espírito geme”. E acrescenta que “a esperança cristã não desilude, mas também não ilude” e que ela é, antes, “uma leitura alternativa da história e dos acontecimentos humanos”. Além disso, Francisco chama homens e mulheres de boa vontade a ajudar a “repensar a questão do poder humano”, o qual de tal maneira progride que nos tornamos altamente perigosos, capazes de pôr em perigo a vida de muitos seres e a nossa própria sobrevivência” (Cf. Laudate Deum, n. 28). No texto, o pontífice faz, ainda, um forte apelo à obediência ao Espírito, que pode transformar nosso instinto predador e nos tornar cultivadores de jardim.
Há uma profunda relação entre liturgia e criação. A liturgia cristã tem sua origem num jardim, em uma manhã do primeiro dia da semana, ao raiar da aurora remontando ao mistério do princípio, quando Deus criou a luz e a separou das trevas. O próprio autor do livro do Gênesis, no primeiro relato da criação, deixa transparecer o calendário litúrgico da comunidade judaica, com seu ritmo diário (tarde e manhã) e semanal. Jesus, repousando no sábado, introduz a humanidade no repouso sabático com a sua ressurreição. É próprio da liturgia agir com a criação. O primeiro ofício do dia no ritmo diário é um diálogo com o Pai à luz do Sol nascente, cujo símbolo é o astro sol anunciando um novo dia. E o ápice da liturgia da Igreja, a vigília pascal, é a noite toda iluminada com pequenas chamas como metáfora da vitória da vida sobre a morte.
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