A Palavra de Deus é a fonte de toda celebração que se queira cristã. Na tradição católico-romana, a Liturgia será sempre forma ritual da Revelação Divina, momento especialíssimo de encontro com Jesus, o único que nos pode “narrar” Deus, porque o conhece na sua singular intimidade filial (cf. Jo 1,18).
Por vezes, o cristianismo é conhecido como a religião do Livro, junto ao judaísmo e ao islamismo. No entanto, nada mais equivocado. Para os cristãos, a base da fé, de sua relação confiante com Deus, não é a Escritura Sagrada, mas aquilo que, por inspiração, as páginas bíblicas registram como fundamento e sentido da história humana. Isso é igual para as três tradições ditas “do livro”, tradições que, na verdade, são maneiras de experimentar a aliança com o Deus de Abraão. Para os crentes no evangelho, Jesus, filho de Maria, é a Palavra feita carne, pessoa divina revestida da fragilidade humana que entrou no mundo, assumindo o dinamismo próprio da vida de criaturas.
Os ritos, então, com os quais celebramos em nossas igrejas, têm por vocação serem o desenrolar do encontro entre a Verbo de Deus e o ser humano, tendo em Jesus sua norma mais pungente. Por isso, no Concílio Vaticano II, o episcopado, “ouvindo religiosamente a Palavra de Deus, proclamando-a com confiança, faz suas as palavras de S. João: “anunciamo-vos a vida eterna, que estava junto do Pai e nos apareceu; anunciamo-vos o que vimos e ouvimos, para que também vós vivais em comunhão conosco, e a nossa comunhão seja com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo” (1Jo 1, 2-3). Como consequência, a Liturgia não será outra coisa que a maneira humano-divina de continuarmos a conhecer a Deus, em cuja humanidade filial ele pode ser visto, ouvido e tocado.
Nesta edição, nossos autores ajudam-nos a perceber esse proceder histórico da salvação ao nos mostrar que a celebração cristã não consiste tão somente na literatura sacra (lecionários, missal, rituais, catecismos), mas concerne sobretudo ao encontro com Deus pela imersão qualificada naqueles mesmos parâmetros que ele assumiu na encarnação do Verbo. Assim, será prazeroso ler o que nos oferece dom Jerônimo, sobre o anúncio da Páscoa e as festas móveis, tendo como premissa o fato de a Liturgia ser sempre o reservar de um tempo para reunir-se e celebrar o Mistério da Páscoa. Igualmente, poderá ser muito instrutivo, com a ajuda do pe. Marlon, descobrir as raízes do lecionário, a “bíblia litúrgica”. Pe. Márcio, por sua vez, debruçando-se na inesgotável riqueza da relação entre Liturgia e Catequese, certamente favorecerá uma mais aguçada compreensão sobre a celebração como primeira e mais importante “cátedra” da educação da fé. Finalmente, o frei Wanderson procura nos mostrar como o gesto sonoro-musical do ordinário da Missa é uma excelente contribuição para que participemos de modo mais frutuoso da celebração, tomando-a como um verdadeiro diálogo da Aliança.
Avaliações
Não há avaliações ainda.