Além de Jesus e da sua mãe Maria, João é o único santo cujo nascimento segundo a carne é celebrado na liturgia. Foi o maior de todos os profetas (Lc 7, 26-28) e apontou o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29-36). Sua vocação profética desde o ventre materno reveste-se de fatos extraordinários, cheios de alegria, que preparam o nascimento de Jesus. O seu próprio nome significa que Deus é favorável ao seu povo. João é o precursor de Cristo com a palavra e com a vida.

O nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética. Que este anúncio renove nossas esperanças neste tempo de tantas incertezas e mentiras.

Na época de Jesus, há tempos, o povo esperava um profeta que viesse anunciar um tempo novo de justiça e de graça divina. De acordo com o evangelho, o nascimento de João Batista revelou que esse tempo novo teve sinais muito claros. Isabel, uma mulher velha e estéril, engravidou e deu a luz. O pai Zacarias que tinha ficado mudo, assim que o menino nasceu, se pôs a falar e a cantar a bondade divina. Esses fatos maravilhosos provocaram em todos alegria porque serviram como sinais de que, em todos os tempos, Deus é sempre capaz de tornar fecundo o útero estéril das sociedades humanas e não apenas das pessoas. Isso significa que o amor divino pode renovar o que, em nosso modo de ser e nas nossas vidas, ainda é envelhecido e estéril. Ele nos faz superar a mudez e a apatia para proclamar o seu projeto de libertação.

Atualmente, no Brasil, em meio à crise social e política que vivemos, não deixa de ser profecia de esperança e de resistência ver as pessoas superarem os muitos e justificados motivos de tristeza e colocarem suas melhores energias na festa que, nesses dias, organizam e vivem de forma tão comunitária e criativa.

Quem tem fé aprende a valorizar os costumes populares e vislumbrar neles sinais de um tempo novo. Conforme os evangelhos, João Batista propôs a todos uma renovação de vida baseada na justiça e na relação com a Terra e as águas. O seu batismo era um rito inspirado na cultura e na religião popular do seu tempo e significava uma ruptura com uma sociedade injusta e desigual, legitimada por uma religião que tinha se tornado, quase somente cultual e baseada em normas legalistas. João Batista propõe uma espiritualidade não apenas baseada no culto e sim na Ética e na pratica da solidariedade (Lucas 3).

Em 2014, na memória do nascimento de João Batista, o papa Francisco fala de três vocações atribuídas a João Batista: Preparar, discernir, deixar crescer o Senhor.

João era um homem importante, as pessoas o procuravam e o seguiam porque suas as palavras eram fortes e chegavam ao coração. Ele podia ter a tentação de se achar grande, mas quando foram lhe perguntar se era ele o Messias ele responde: “Sou a voz que grita no deserto”. João é uma voz, sem palavra, porque a Palavra não é ele, é Outro. Eis então, qual é o mistério de João: Nunca se apoderar da Palavra, apenas apontar e se fazer voz da Palavra. Eis a primeira vocação de João Batista: Preparar o coração do povo para o encontro com o Senhor.

A segunda é o discernimento. Quando o Espírito revelou a João no meio de tanta gente, quem era o Messias, ele não teve receio em dizer: ‘É este, o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo’.

A terceira vocação é a de diminuir. Ele tinha vindo para anunciar a chegada do Messias. E quando o Messias se manifestou a vida dele começou a se abaixar, a diminuir até se anular, para que o Senhor crescesse. Esta foi a etapa difícil de João, porque Jesus tinha um estilo que ele não tinha imaginado, a ponto de que, na prisão, ele sofreu não só a escuridão da cela, mas a escuridão do coração: ‘Mas será que é este? Será que eu não me enganei? Porque o Messias tem um estilo tão simples… Não entendo…’. E, como era homem de Deus, ele pediu que os discípulos fossem até Jesus para perguntar: ‘És Tu realmente ou devemos esperar por outro?’

Em uma outra homilia em 2013, o papa Francisco disse: A figura de João me faz pensar na Igreja. Uma Igreja que esteja sempre ao serviço da Palavra. Que anuncia não a si mesma, mas o Senhor.  Uma Igreja que saber discernir  a verdade daquilo que parece verdade mas não é. Uma Igreja que se faz Voz, não Palavra luz. Que seja como João, luminosa, mas ciente que sua luz é reflexo do sol.

 

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo(Séc. V)     

Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só então recupera a voz. Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto, fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se João se anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: Quem és tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23). João é a voz; o Senhor, porém, no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.

 

Jesus disse, um dia, que “entre os nascidos de mulher não há ninguém maior do que João” (Lc 7,28). Dá para entender, a grandeza deste santo que hoje a Igreja venera com uma festa.

Filho de Zacarias, o mudo, e de Isabel, a estéril, o seu nascimento foi de grande alegria e foi reconhecido como profeta, porque anunciou e preparou os caminhos para a vinda de Jesus, e porque ele próprio batizou Jesus e deu testemunho dele com a palavra e com a vida.

Que o clarão e o calor das fogueiras de São João aqueçam os nossos corações e ilumine os nossos passos no seguimento de Jesus.

 

Fontes:

Sermão de Santo Agostinho 293,1-3: PL 38,1327-1328 – Cf. Sermão na integra: Liturgia das horas, III vol. P. 1274.

Homilia do Papa Francisco:http://www.zenit.org/pt/articles/homilia-do-papa-francisco-na-casa-santa-marta-um-cristao-nao-anuncia-a-si-mesmo-mas-a-deus

 

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