No dia 3 de outubro de 2020, na véspera da memória litúrgica de Francisco de Assis, recebemos de outro Francisco, o bispo de Roma, a terceira Carta Encíclica do seu pontificado: Fratelli Tutti, sobre a Fraternidade e a Amizade Social.
Francisco não se propõe, nesta Carta, “resumir a doutrina sobre o amor fraterno” (n. 6), mas, claramente, reúne o seu pensamento e o estilo do seu ministério, manifestado desde a noite da sua eleição, no dia 13 de março de 2013, quando se apresentou como irmão e amigo no meio do povo de Deus. De fato, foram inúmeros os gestos e palavras do papa, nestes oito anos de pontificado, que apontam para a sua escolha pela fraternidade como “valor central” que rege as relações entre homens e mulheres, crentes e não crentes e, também, entre os humanos e a casa comum.
Citando o nosso Vinicius de Moraes, “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida” [n. 215], o papa aposta numa “cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro” [n. 215] e nos convoca para que “sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos” [n. 8].
Essa Carta chega em tempo mais que oportuno, quando o mundo se encontra ferido, tanto pela violência de movimentos extremistas que oprimem e reprimem o povo, valendo-se, inclusive, do seu próprio consentimento, quanto pela atual pandemia que, segundo o papa, deixou a descoberto as nossas fragmentações e evidenciou a incapacidade dos países de agirem em conjunto, apesar de superconectados, diante de um problema que afeta a todos (Cf. n. 7).
Na Igreja, por sua vez, o que fragmenta a comunhão é o clericalismo exacerbado, que se reforçou ainda mais com a pandemia, em detrimento do sacerdócio comum. E, no entanto, o sujeito eclesial que se constitui no batismo é o povo de Deus, homens e mulheres, jovens e crianças, ministros ou não, chamados a ser, para o mundo, uma parábola da fraternidade e da amizade social. Que o advento do Senhor nos prepare a celebrar a páscoa do seu natal com profunda alegria e esperança de que reine no mundo a cultura do encontro e da paz.
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