A segunda Conferência do Episcopado Latino-Americano, celebrada em Medellín, na Colômbia, em 1968, foi um marco decisivo para a recepção do Concílio Vaticano II na Igreja Latino-Americana, pois contribuiu para o avanço de suas resoluções frente a tantas demandas específicas do continente, o qual vivia em plena ditadura militar e com as massas populares em extrema pobreza.
O pacto das Catacumbas, proposto por um pequeno grupo de bispos durante o Concílio, só vai ganhar força e expressão coletiva, em toda a Igreja da América Latina, com a opção pelos pobres e pelas Comunidades Eclesiais de Base, preocupações tão presentes na Conferência de 1968, e que concretizaram o modelo eclesial descrito na Lumen Gentium. Com chave bíblica, Medellín propõe um olhar teológico sobre a história e uma salvação que atinja a pessoa em sua totalidade. Nesse sentido, identifica a páscoa de Jesus com a páscoa do povo, ou seja, a passagem de condições de vida menos humanas para mais humanas.
Assim, a liturgia, como memorial da Páscoa no coração da história (SC 5-6), assume de forma clara um compromisso com a realidade humana e expressa a relação vital entre a fé celebrada e a fé professada e vivida no cotidiano da luta. Os Encontros Intereclesiais das Comunidades de Base, que chegaram à sua décima quarta edição em janeiro deste ano, são uma amostra significativa de um novo jeito de celebrar, expressão e fonte da vida da Igreja que, em meio aos muitos desafios, se compreende como servidora do Reino.
50 anos depois, pouco se fala de Medellín, mas, nas comunidades de Base e em muitos meios eclesiais, a “recordação da vida” na liturgia tornou-se um imperativo! Busca-se uma liturgia bonita, alegre, afetiva, sempre profundamente expressão de uma Igreja, como disse o papa Francisco na Bolívia, em 2015, de “portas abertas, que acompanha e consegue dar uma colaboração real, permanente e comprometida aos movimentos populares”.
Oxalá este ano jubilar, em tempos de papa Francisco e oportunamente coincidindo com o ano do laicato, reanime as comunidades e seus servidores a prosseguirem em sua resistência, mesmo em meio a outros cenários os quais, ao investirem num estilo de celebração, claramente conservador e clericalista, insistem no retrocesso.
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