Goffredo Boseli, monge da comunidade di Bose na Itália, inicia o seu livro Il senso spirituale della liturgia (o sentido espiritual da liturgia), chamando a atenção para o fato de que hoje, “muitas vezes, a liturgia é percebida mais como um problema a ser resolvido do que como um recurso a ser alcançado”. E, no entanto, diz o autor, “o futuro do cristianismo no ocidente depende em grande parte da capacidade que a Igreja terá de fazer da liturgia a fonte da vida espiritual dos crentes. Por isso, a liturgia é uma responsabilidade para a Igreja de hoje”. Lembra ainda que “a questão decisiva a qual é preciso responder com urgência, não é Como se vive a liturGia , mas Como se vive da liturGia. E esclarece que isto implica “viver o que a Liturgia propõe: o perdão invocado, a Palavra escutada, a ação de graças proclamada, a eucaristia recebida como comunhão”. Afinal, “é pela santidade da vida que se dá glória a Deus e o critério último para avaliar a qualidade da liturgia é a qualidade da vida espiritual de quem a celebra”, condição para viver a liturgia, ápice e fonte da vida da Igreja (cf. SC 10).
Goffredo Boseli verifica que cinquenta anos depois da profunda reforma do Concílio Vaticano II, com a indiscutível aproximação que esta promoveu entre a liturgia e o povo de Deus, não é ainda possível afirmar que a liturgia tenha se tornado alimento da vida espiritual. De fato, atualmente, sente-se certo desencanto e abandono da liturgia renovada, com reações que vão desde quem facilmente substitui a liturgia da Igreja por ‘ritos’ próprios, até os que adotam velhos costumes superados pela recente reforma ou ainda os que se deleitam com liturgias espetaculares, capazes de emocionar, mas sem a profundidade requerida pelo mistério celebrado.
A constatação é que, não ocorreu com a liturgia, o que aconteceu com a Bíblia; posta nas mãos do povo tornou-se uma fonte para a espiritualidade cristã, graças ao eficaz método da lectio divina. O nosso autor propõe, então, uma espécie de lectio da Liturgia – a mistagogia – como método que permita aos cristãos/ cristãs, aproximar-se do sentido dos textos e das ações simbólicas para mergulhar no mistério ali significado e realizado. Como as Sagradas Escrituras, também a liturgia precisa de uma compreensão lúcida, espiritual e existencial que nos possibilite viver do mistério que celebramos. Sem isto, a própria Palavra ficará despojada do lugar eclesial da sua exegese; lembrando, “que na celebração, a Palavra se converte em sacramento pela intervenção do Espírito” (Introdução ao Elenco das Leituras da missa, 1981, n. 41) que realiza o que ela significa.
Eis o caminho que teremos de percorrer em um futuro próximo, com verdadeiro empenho orientado para a qualidade das nossas celebrações e para a sua compreensão (mistagógica), a ser levada a sério na catequese de iniciação cristã, na formação permanente daqueles que já foram iniciados na fé e no estudo especializado nos institutos teológicos e nas casas de formação.
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